O ministro Ciro Nogueira não completou nem uma semana de cargo e já está sendo tragado pela usina de crises de Jair Bolsonaro. O novo titular da Casa Civil planejou lançar o novo Bolsa Família como uma bandeira eleitoral fundamental para recuperar a popularidade do mandatário e levá-lo ao segundo mandato.

Ninguém prestou atenção ao lançamento simbólico dessa peça de marketing político eleitoreiro no Congresso, na segunda-feira. As atenções estavam voltadas ao naufrágio do governo Bolsonaro, por meio do enquadramento que as cortes superiores impuseram ao presidente pela sua agenda prioritária, em função do desastre iminente: melar as próximas eleições e impor sua vontade ditatorial e de seus asseclas.

Ao invés de preparar a agenda política da reeleição, Ciro passou o começo da semana lidando com o caos da administração: o risco de apagões iminentes pela desídia federal com a energia (e com todas as áreas do governo, diga-se de passagem). Já o presidente dobrou a aposta e voltou a atacar o presidente do TSE, Luiz Roberto Barroso. A intenção não é apenas mobilizar a base radical, cada vez menor, como se viu nas manifestações do último domingo. Pretende testar o limite dos chefes dos Poderes. Quer vergar o STF, já que imagina ter enquadrado o Congresso ao dominar sua cúpula com aliados cooptados do Centrão.

Trata-se de uma ilusão. Até agora, o plano deu errado. O STF está se unindo e aumentando o tom de suas respostas. E o presidente ficou ainda mais fragilizado no Congresso, refém do grupo fisiológico, que tem 130 pedidos de impeachment à disposição. Se Bolsonaro abreviar sua tentativa de golpe, tentando, por exemplo, invadir o STF ou o Congresso, mais cedo cairá. E isso porque o mandatário conta com um apoio popular que não existe fora das bolhas digitais. Uma das condições fundamentais para o impeachment é a “voz das ruas”. Elas estão quietas, à espera do avanço das vacinas. Mas podem despertar. Será um golpe fulminante para o bolsonarismo, e a última prova da miopia política do presidente.