O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) utilizou cinco ministérios, o Exército, a Aeronáutica e a estatal EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) para difundir a utilização da cloroquina e da hidroxicloroquina, remédios comprovadamente ineficazes no tratamento para a Covid-19. As informações são da Folha.

O jornal identificou dezenas de atos oficiais adotados pelo governo para garantir a circulação dos medicamentos. Entre os ministérios envolvidos em alguma etapa da política de distribuição dos medicamentos estão os da Saúde, Economia, Defesa, Relações Exteriores e Ciência e Tecnologia.

Segundo a reportagem, as pastas se envolveram desde a orientação técnica para o uso dos medicamentos sem eficácia para a Covid-19 até o fornecimento final deles, passando por isenções de impostos e facilitações na circulação dos medicamentos.

O Exército produziu 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina a partir de solicitações dos Ministérios da Defesa e da Saúde, e gastou R$ 1,16 milhão, ainda segundo a Folha.

Ainda de acordo com o jornal, a Aeronáutica ficou responsável pelo transporte de caixas de cloroquina em diferentes ocasiões, principalmente para regiões mais isoladas, como comunidades indígenas nas fronteiras com a Colômbia e a Venezuela.

Além dos ministérios e das Forças Armadas, o governo federal também utilizou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares na difusão dos medicamentos ineficazes para o tratamento da Covid-19. A estatal responsável pelos hospitais universitários federais fez uma compra de hidroxicloroquina, segundo os registros levantados pela Folha. Ao jornal, a estatal afirmou que a compra foi cancelada e não chegou a ser concluída.

Cloroquina como política de governo

De acordo com uma ferramenta alimentada pelo Ministério da Saúde, ainda segundo a Folha, foram distribuídos mais de 5,4 milhões de comprimidos de cloroquina e 481,5 mil comprimidos de hidroxicloroquina, principalmente para as regiões Norte e Nordeste.

O ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, é investigado em um inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) por omissão no colapso da Saúde no Amazonas, onde faltou oxigênio em hospitais, matando dezenas de pacientes. Enquanto faltava oxigênio no estado, o ministério enviou a Manaus 120 mil comprimidos de hidroxicloroquina.

A PGR também instaurou um procedimento para apurar a distribuição do medicamento no país. A Procuradoria da República no Distrito Federal também abriu um processo, na esfera cível, para investigar improbidade na distribuição de cloroquina, e utiliza como evidências vídeos em que o general da ativa Eduardo Pazuello e o presidente Jair Bolsonaro defendem o “tratamento precoce” para a Covid-19.