Não poderia dar em outro resultado. A viagem do digníssimo presidente da República, Jair Messias “o mito” Bolsonaro, à Rússia, berço do comunismo que tanto repudiava, foi um espetáculo digno de comédia pastelão. Sim, o capitão resolveu aprontar das suas. De saída empurrou o Brasil à condição, constrangedora, de “solidário” às pretensões do camarada Putin, tirando da cartola, como justificativa, o argumento de que seu país estaria sempre ao lado de quem “promove a paz”. Putin e paz em um mesmo enunciado? Definitivamente, não combinam. Até as emas do Planalto sabem que o líder soviético resolveu aprontar nos últimos tempos uma das maiores ameaças de conflito armado desde a Segunda Grande Guerra, tentando atacar a Ucrânia. Mas Bolsonaro enxergou no anfitrião uma espécie de pacificador. Vai saber lá o por quê! Já havia saído do País com um típico discurso de miss, falando “a favor da paz mundial”.

Desembarcou no caldeirão da disputa, contrariando todos os conselhos nesse sentido, ignorando alertas do parceiro EUA e mesmo da OTAN, com uma pueril desculpa de negociar fertilizantes. Não era a melhor hora para ir buscar esterco nesse terreno minado, mas foi. E aí tratou o protagonista do furdunço como um promotor da paz? Imagine como os americanos e demais nações que realizam negócios com o Brasil, e rechaçam a postura de Putin, ficaram diante do afago indevido do mandatário. Um antigo aliado diplomático do capitão, ao saber do inusitado, chegou a comentar a boca pequena: “Bolsonaro só faz M.”. Observadores atentos também ficaram a se perguntar que tipo de remedinho anda tomando o honorável “mito” para tantas poltronices.

Curiosamente, horas antes de ele descer em solo moscovita, a Rússia resolveu arrefecer os ânimos e aceitou negociar com o Ocidente termos de um eventual entendimento. Foi o suficiente para que a claque bolsonarista atribuísse ao seu líder o crédito pelo feito. Messias nem ainda havia chegado ao destino e já era tido como digno de um gesto histórico, responsável por botar um ponto final no combate iminente. Não ria! Os seguidores acreditaram e tentaram a todo custo vender a ideia. O ex-ministro do Meio Ambiente, simpatizante de madeireiros ilegais e defensor da proposta de “passar uma boiada no Congresso”, Ricardo Salles, publicou em suas redes sociais um post montado, fake news absoluta, usando indevidamente a logomarca da rede de notícias CNN, para dar ares de credibilidade ao “informe”, exaltando Bolsonaro como o homem que “evitou a 3ª Guerra Mundial”. Uma figura da estatura de um ex-ministro se prestando a um papel débil desses? Nada mais causa surpresa nas falanges ignorantes do capitão! A sua máquina de propaganda, no embalo, acabou por produzir, incessantemente durante a visita, uma enxurrada de lorotas na mesma linha. Em contrapartida, memes de deboche, tripudiando sobre os delírios de simpatizantes, tomaram as redes. O presidente, em pessoa, resolveu tratar do assunto, com o maior caradurismo possível, durante coletiva após o bate-papo com Putin, e não perdeu a deixa para tirar uma casquinha na onda: “Mantivemos a nossa agenda, por coincidência ou não parte das tropas deixaram a fronteira”. Sim, prezado leitor, ele realmente buscou levar o mundo – e os eleitores brasileiros, em particular – a acreditarem que a sua “figura divina” abençoou o Leste Europeu com o cessar fogo. Escárnio deprimente. Quem sabe um Prêmio Nobel da Paz possa vir a brotar de tão proveitosa jornada? A essa altura do campeonato, não há como não enxergar as patetadas de Bolsonaro e de sua entourage, desta feita com versão no circo de Moscou – não naquele célebre que arma lonas pelo planeta para entreter os espectadores. O beligerante mesmo. O Bozo, que por meio de sua energia cósmica espiritual teria botado ordem no picadeiro, é definitivamente visto com desdém por seus pares. Putin, antes de aceitar tirar uma foto ao seu lado, impôs humilhações que nenhum outro chefe de Estado passou em circunstâncias semelhantes. Bolsonaro foi submetido a cinco testes para comprovar que não estava contaminado pela Covid e ainda teve de ficar em quarentena, isolado. Esnobado no Ocidente, queria se enturmar com Putin para exibir em campanha algum prestígio internacional, que na verdade não tem.

A Otan lhe puxou a orelha com um recado nada desprezível: “cada nação é livre para escolher suas relações bilaterais”. Não tenha dúvida de que o erro da viagem vai pesar negativamente nas pretensões brasileiras de conquistar um assento definitivo na OCDE, o organismo multilateral que arbitra as relações globais. Bolsonaro parece necessitar da supervisão de um adulto a cada escolha que faz. O périplo a Moscou sinalizou o completo isolamento e diminuição do Brasil perante o mundo. Após três anos de uma gestão de relações internacionais desastrosa, o governo é capaz de entregar, apenas, paródias circenses. Nada mais. Um presidente pequeno, não vacinado, que aceita o confinamento e comporta-se pianinho lá fora, com máscara e tudo, quando em seu próprio País promove a algazarra afrontosa aos bons costumes em meio à pandemia, é de uma cretinice sem tamanho. Dá vergonha, repulsa e revolta ser presidido por alguém assim. Para dizer o mínimo.