Desde que um tribunal em Paris decidiu que Marine Le Pen não poderia se candidatar a nenhum cargo político na França, a líder do partido de extrema-direita Reunião Nacional (RN) passou a chamar o sistema judicial francês de tirano, numa toada não muito diferente da seguida por Jair Bolsonaro e Donald Trump nos últimos anos, quando se apresentaram como perseguidos pela Justiça de seus países e prejudicados por sistemas eleitorais supostamente fraudados.
A postura mais agressiva de Le Pen, semelhante à de Trump e Bolsonaro, ao acusar o sistema de conspirar contra ela, deixa de lado a estratégia que vinha perseguindo havia cerca de 15 anos, de tentar suavizar a imagem extremista do seu partido e torná-lo mais palatável para a corrente política dominante. O realinhamento com o que o historiador Francis Fukuyama chama de Internacional Populista também mira se beneficiar.
Deputado do Reunião Nacional no Parlamento Europeu, Philippe Olivier, também cunhado e conselheiro de Le Pen, afirmou em uma entrevista que Trump é uma “influência positiva”.
“Não somos trumpistas, não buscamos vingança, mas acreditamos que ele é uma influência positiva. Ele está enterrando a globalização, e nós apoiamos isso, e acreditamos que ele forçará a Europa a não afundar na imigração descontrolada”, disse ao New York Times.
O embaixador Rubens Barbosa vê intersecções nas narrativas dos três.
“A narrativa de Trump e Bolsonaro é a mesma: de que as eleições foram fraudadas e que suas reações são justificadas porque acreditam que foram roubados. A situação na França é parecida, mas no caso de Le Pen, trata-se de um julgamento que, segundo ela, teve motivação política e não técnica. Ela afirma que a decisão teve como objetivo impedi-la de se candidatar, pois acredita que venceria as eleições de 2027”, explicou Barbosa à coluna.
Entre Le Pen e Trump, há ainda a intersecção da imigração como vilã.
“Trump está com o discurso recente que o mundo inteiro espoliou os Estados Unidos. Na França, a mesma coisa: a imigração descontrolada está prejudicando o país”, pontuou o embaixador.