Ir bem ou não ir bem em um debate político é fator recuperável, desde que esse prejuízo fique restrito ao campo da política e do partido. Não entre na área da ideologia.

O que se viu no debate do domingo passado era o esperado. O ex-presidente Lula estrategicamente ficaria mesmo na defensiva, com olhos em um segundo turno, tentando atrair, então, o apoio da candidata Simone Tebet e do candidato Ciro Gomes. Fez isso pelo menos em três oportunidades, reforçando a ideia de que todos têm um adversário comum e antidemocrático: Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição.

A candidata Simone Tebet saiu-se muito bem. Motivo: foi a única entre pleiteantes à função de de incumbente que projetou programaticamente um futuro. Ainda assim, encontrou espaço e tempo para bater em quem desejava. Mas colocou publicamente um programa de governo.

Jair Bolsonaro foi péssimo. Tropeçou em seus próprios sapatos, fenômeno típico de personalidades, temperamentos e caracteres como o dele. Agrediu fora do campo político, e isso é irrecuperável em termos de popularidade e intenção de votos. Mais: agrediu de forma cínica, misógina e machista uma mulher. Mais ainda: essa mulher não é candidata, é uma jornalista que estava participando dentro de sua função profissional.

Bolsonaro precisa de votos no campo feminino, até porque é aí que está a sua maior rejeição e são as mulheres prevalentes no colégio eleitoral brasileiro.

Agressão gratuita? Não. No debate, assim como Simone brilhou com falas programáticas, assim como Lula jogou na defensiva inteligentemente (lembrou o técnico de futebol Carlos Parreira e sua tática de vencer por meio gol), Jair Bolsonaro mostrou aquilo que é, e não politicamente, mas, isso sim, como pessoa: um homem que odeia as mulheres, que despreza as mulheres.

Bolsonaro destruiu Bolsonaro. Repetindo, tropeçou em si mesmo.

Chega a ser um “pecado literário” citar William Shakespeare numa escrita sobre Bolsonaro. Mas com perdão do maior dramaturgo de todos os tempos, um de seus versos vale para Jair Bolsonaro que jamais se recuperará do tombo, ainda que tivesse mil debates pela frente: “meu fim é o desespero”.