O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve acesso ao documento sigiloso com os argumentos da defesa do general Mário Fernandes antes mesmo do documento ser enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). A informação consta no relatório da Polícia Federal, que indiciou o ex-presidente por coação no processo que investiga o plano de golpe de Estado.
Bolsonaro e Fernandes são réus no mesmo inquérito. Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente articulou e comandou as ações do plano golpista. Já Mário Fernandes foi um dos principais apoiadores do golpe e liderou o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
A PF afirma que Bolsonaro teve acesso ao documento de resposta da defesa de Fernandes à acusação de participação no plano de golpe de Estado ao menos 1h30min antes da peça ser enviada ao STF. O documento foi enviado ao celular do ex-presidente às 19h54 do dia 6 de março, mas só foi incluído no sistema da Corte às 21h13.
No celular de Jair Bolsonaro também foi encontrado um outro documento, desta vez relacionado ao agravo regimental para revogar a prisão de Mário Fernandes. A peça chegou ao conhecimento do ex-presidente no dia 30 de dezembro do ano passado, mas só foi protocolado no dia seguinte.
“Em conclusão, tendo em vista a notória semelhança entre o conteúdo do arquivo encontrado no aparelho celular do ex-Presidente com aquele protocolado nos autos da PET 13.236/DF pela defesa do réu MARIO FERNANDES, demonstra-se novamente que JAIR MESSIAS BOLSONARO teve acesso prévio a conteúdo relacionado à defesa do General MARIO FERNANDES, especificamente no dia 30.12.2024, um dia antes do protocolo pela defesa no STF: 31.12.2024”, afirma a Polícia Federal.
Indiciamento de Bolsonaro
A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no inquérito que investiga obstrução de Justiça no inquérito que apura o plano de golpe de Estado. Ambos foram indiciados por coação no curso do processo e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O inquérito investiga a ida de Eduardo Bolsonaro para os Estados Unidos para articular medidas contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Jair Bolsonaro entrou no processo após financiar a ida do filho para o exterior.
Para a PF, Bolsonaro atuou junto a Eduardo e do jornalista Paulo Figueiredo para pressionar o STF no processo que apura a tentativa de golpe. Além deles, o pastor Silas Malafaia também é colocado como o articulador da pressão. Malafaia foi alvo de uma operação de busca e apreensão na noite desta quarta-feira, 20.
O relatório também aponta que o ex-presidente deu aval e suporte para as ações de seus aliados, como a divulgação de vídeos e mensagens em inglês para chegar às autoridades americanas. Entre os documentos citados, está uma mensagem com pedido de anistia “total e irrestrita”.
Os investigadores também citaram os repasses feitos por Bolsonaro a Eduardo no começo do ano. Entre janeiro e maio, o ex-chefe do Planalto teria enviado R$ 111 mil em repasses fracionados. No dia 13 de maio, Jair Bolsonaro depositou R$ 2 milhões na conta do deputado federal. O depósito foi confirmado por ele em depoimento à PF.