O presidente Jair Bolsonaro, cético com relação ao novo coronavírus, testou positivo nesta terça-feira (7) para a doença, enquanto o Brasil superava 1,6 milhão de contágios e os Estados Unidos, o país mais afetado pela pandemia, notificou formalmente sua saída da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O próprio Bolsonaro, de 65 anos, anunciou o resultado positivo do teste, no Palácio da Alvorada, residência presidencial em Brasília. Ele disse à imprensa ter sintomas leves e se sentir “perfeitamente bem”, enquanto faz tratamento com a polêmica hidroxicloroquina.

Bolsonaro, que desde o começo da pandemia se negou a ordenar a quarentena para conter a disseminação do coronavírus, vetou nos últimos dias vários artigos de uma lei sobre o uso de máscaras em locais públicos no país, que é o segundo com o maior número de mortos e de casos confirmados.

O balanço mais recente, anunciado na noite desta terça, registra 1.668.589 casos confirmados e 66.741 óbitos. Nas últimas 24 horas foram reportadas 1.254 mortes e 45.305 contágios.

Pouco após o anúncio de Bolsonaro, a OMS lhe desejou uma “rápida recuperação”, e aproveitou para voltar a exortar o Brasil e o mundo a redobrar esforços para conter a pandemia.

“Nenhum país está imune, nenhum país está livre e ninguém pode estar a salvo”, declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

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Além disso, o organismo reconheceu nesta terça haver “evidências inovadoras” da possível transmissão pelo ar do Sars-CoV-2, depois de cientistas internacionais terem alertado a respeito, e reiterou que a pandemia acelera.

Longe de se retratar, Bolsonaro disse que “a vida continua” e que “o Brasil tem que produzir”, insistindo em que os “efeitos colaterais” do combate à COVID-19 não podem ser piores do que a própria doença, em alusão ao impacto econômico das medidas de contenção.

À noite, o presidente argentino, Alberto Fernández, anunciou ter enviado uma carta a Bolsonaro, desejando-lhe um pronto restabelecimento.

Os dois participaram na semana passada de uma cúpula virtual do Mercosul sem terem tido confrontos, apesar de suas divergências ideológicas e na forma de combater a pandemia.

“Acabo de mandar uma nota desejando uma pronta recuperação ao presidente do Brasil que está infectado pelo coronavírus, em um mundo onde a pandemia não cede”, disse Fernández ao fim de um encontro com a Associação Cristã de Dirigentes de Empresas, em Buenos Aires.

A notícia de seu exame positivo ocorre em meio à reabertura gradativa de bares e restaurantes em São Paulo, com 46 milhões de habitantes, após mais de cem dias de confinamento parcial determinado pelo governador do estado, João Doria.

– Ameaça cumprida-

Em meio à crise sanitária que forçou várias regiões do sul e do oeste dos Estados Unidos a dar marcha à ré, o governo de Donald Trump iniciou nesta terça a retirada formal do país da Organização Mundial da Saúde, concretizando as reiteradas ameaças feitas pelo presidente republicano.

Trump acusa a OMS de ter acobertado a gravidade da pandemia e de ter posições muito próximas das da China, país ao qual também responsabiliza pela propagação da doença.


Os Estados Unidos, atualmente foco principal da pandemia, é o maior doador da OMS e sua saída representa um duro golpe para o seu funcionamento, ao perder 400 milhões de dólares anuais.

A retirada se efetivaria em um ano, em 6 de junho de 2021. Joe Biden, adversário democrata de Trump nas presidenciais de novembro, assegurou que se for eleito, manterá os Estados Unidos na organização. Há vários dias, o país contabiliza uma média de 50.000 novos casos de COVID-19 por dia.

– Avanços e recuos –

Em todo o mundo, já houve 11,6 milhões de contágios e mais de 539.000 mortes desde que a COVID-19 emergiu em dezembro na China.

A região da América Latina e do Caribe se tornou o epicentro da pandemia, com 3 .023. 813 contágios e 139 .999 falecidos, mais da metade no Brasil.

A recidiva de casos tem complicado os planos de atenuar a quarentena.

O Chile superou nesta terça os 300.000 infectados pelo novo coronavírus, ao somar 2.462 casos nas últimas últimas 24 horas e 50 falecidos, e confirmou uma tendência ao declínio há 23 dias, o que levou as autoridades a anunciar que começará a ser planejado um cauteloso desconfinamento.

Em meados de abril, quando os contágios diários chegavam a 500, o presidente chileno, Sebastián Piñera, comemorou ter alcançado um “platô” e anunciou um plano de “retorno seguro”, que levou ao relaxamento de medidas e, de acordo com estudos, resultou em um aumento exponencial dos contágios.

No México, com mais de 256.000 casos reportados, o presidente Andrés Manuel López Obrador testou negativo no exame feito antes de viajar a Washington, onde se encontrará na quarta-feira com seu contraparte americano, Donald Trump.

E no Paraguai, o ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, pediu à população que continue respeitando os protocolos de prevenção da COVID-19, após infecções e mortes dobrarem em um mês.

Do outro lado do planeta, a cidade australiana de Melbourne fechou as fronteiras com o restante do país e desde esta terça confiou seus quase cinco milhões de habitantes.


A região concentra a maioria dos novos contágios, com 191 infecções em apenas 24 horas, um número alarmante diante dos 9.000 casos de coronavírus e dos 109 falecimentos registrados na Austrália durante toda a crise.

A Europa, por sua vez, superou nesta terça-feira os 200.000 mortos (de 2.754.284 casos), dois terços dos quais foram reportados em Reino Unido, Itália, França e Espanha, segundo um balanço da AFP feito com dados oficiais.

A Comissão Europeia revisou seus cálculos e previu uma contração da economia na zona do euro de 8,7% em 2020, frente aos 7,7% previstos em maio, devido aos “riscos excepcionalmente altos” vinculados ao coronavírus e ao Brexit.

Na China, nesta terça-feira e pela primeira vez desde o aparecimento de um foco de contágios na capital, Pequim, em junho, as autoridades anunciaram que não foram registrados novos casos.

Um total de 335 pessoas foram infectadas desde que este surto surgiu no mercado atacadista Xinfadi de Pequim.

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