O Brasil atingiu ontem o trágico patamar de 480 mil mortes causadas pelo coronavírus. Qualquer líder decente, diante de um cenário devastador como esse, teria a dignidade de se dirigir ao povo com uma mensagem de consolo, de apoio ou, simplesmente, de fé. É claro que não podemos esperar uma atitude decente de Jair Bolsonaro. Entre o povo do seu país e coronavírus, o presidente escolheu há muito tempo lutar com todas as suas forças ao lado do vírus. Brasileiros abaixo da terra, coronavírus acima de todos.

A falta de respeito de Bolsonaro pelo Brasil é tão grande que ele ainda continua com a mania macabra de fazer piada com as mortes. Depois dos clássicos “e daí?” e “não sou coveiro, tá?”, ontem ele fez gracinhas com o ministro da Saúde. “Acabei de falar com um tal de Queiroga aí, não sei se vocês sabem quem é”, referindo-se ao ministro Marcelo Queiroga. Sabemos, sim, presidente. Infelizmente: é apenas mais um desqualificado entre tantos no seu governo. A gracinha do presidente prenunciava outra declaração a favor do vírus: Bolsonaro pediu a Queiroga um parecer desobrigando o uso de máscaras para quem está vacinado ou já foi contaminado pela Covid-19. Bolsonaro odeia máscaras porque elas impedem a disseminação do vírus.

Fico pensando no dia a dia do presidente. Fico pensando nas reuniões dele, acompanhado pelos inseparáveis três patetas, zero um, zero dois e zero três, definindo qual será a declaração mais estúpida que ele poderia dar no dia. Qual seria a razão para reduzir o uso de máscaras? Para encontrar a resposta, é preciso baixar o raciocínio intelectual ao nível do presidente para tentar entender como ele pensa.

Bolsonaro pretende participar de uma motociata em São Paulo ao lado de seus bovinos motorizados no próximo sábado, 12 de junho. O governador de São Paulo, Joao Doria, no entanto, já avisou: se estiver sem máscara, será multado. É isso! O presidente, com sua idade mental de 12 anos, quer um atestado de Queiroga para não dar ao governador de São Paulo a oportunidade de multá-lo. Parece infantil? Parece. Mas nunca subestime a morbidez do presidente. Ao exigir o parecer de Queiroga, o covarde Bolsonaro tenta fugir da responsabilização pelo ato que aumentaria ainda mais o número de mortes.

Bolsonaro não quer dar a Doria, o verdadeiro responsável por termos vacinas no Brasil, o gostinho de multá-lo. Não que o problema seja dinheiro: bastaria pedir para Queiroz ou outro miliciano depositar um cheque em sua conta – ele está acostumado a engordar a conta familiar dos Bolsonaro. O objetivo do presidente é se posicionar contra a recomendação de todos os especialistas do mundo, dos infectologistas brasileiros à Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas isso não tem importância: a guerra contra Bolsonaro e seu aliado, o coronavírus, só será vencida quando nos livrarmos desses dois vírus que atormentam o Brasil.