10/03/2022 - 18:06
Chamar gente para uma reunião sem explicitar a pauta do encontro significa que o anfitrião possui, no mínimo, uma agenda camuflada. Sem agenda ele não está.
Foi assim que o presidente Jair Bolsonaro agiu ao convidar pastores evangélicos, ministros de Estado, líderes políticos e parlamentares para uma conversa informal no Palácio da Alvorada.
O que ele queria mesmo era a presença dos religiosos, e a forçada de barra, com direito a lágrimas, ao tocar no assunto da facada que o feriu em 2018 durante a campanha à eleição presidencial evidenciou que o motivo da reunião era um só: pedir apoio a sua reeleição.
Bolsonaro, a certa altura da conversa, implorou por adesão: “eu dirijo a Nação para o lado que os senhores desejarem”. Pedir votos de forma mais descarada é impossível. E de forma mais mentirosa, também.
Jair Bolsonaro sabe de um importante ponto: o Brasil é uma República e, como tal, o Estado é laico. Não pode ele, Bolsonaro, privilegiar o “lado” que os evangélicos “desejarem” para os rumos do País, nem pode ele, Bolsonaro, atender exclusivamente, nesse sentido, católicos, umbandistas, anglicanos, judeus ou todas as demais religiões existentes no País.
O presidente da República, no Brasil republicano e democrático, tem de governar para todos os brasileiros sem distinção de credo, etnia, gênero ou condição social. Todas as religiões e todos os credos merecem respeito. Bolsonaro não pode fazer deles instrumentos de demagogia.
Seria interessante se Bolsonaro repetisse essa fala a outros religiosos. Dita uma vez já é demagogia pura, imagine se ele a repetisse a líderes de diversas crenças? E é demagogia porque fica implícita a seguinte questão: e se outra religião optar por outro destino (“lado”) para o País que não o destino (“lado”) escolhido, por exemplo, pelos evangélicos?
E aí, como é que fica? E se os umbandistas, por sua vez, quiserem outro rumo?
Tudo isso são somente reflexões que valorizam todas as religiões de forma isonômica e respeitosa, até porque está chegando o crepúsculo de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto — é mais fácil manadas passarem ao mesmo tempo pelo buraco de uma agulha do que ele ser reeleito. E há, finalmente, um detalhe importante: seja qual for a religião, ela sempre vai querer o bem do Brasil. E o bem do Brasil só é possível com Bolsonaro no ostracismo político.