Todos os dias, ao acordar, o marido da receptora de cheques de milicianos se olha no espelho, respira fundo, pensa um pouco e se pergunta: “com que máscara eu vou?”. Como é incapaz de somar 2+2 sem errar, veste uma e aboleta a outra no bolso. Toma o café da manhã e parte para mais um dia de assombro à nação.

De manhã, o amigão do Queiroz explode em fúria e ataca ferozmente um ministro do STF. À noite, concede entrevista em tom sereno e critica, de forma aceitável, ainda que mentirosa, como de costume, o mesmo ministro. Nas redes sociais, ora invoca o “meu” exército, ora diz que o “exército é do povo, é do Brasil”.

O pai do senador das rachadinhas e da mansão de 6 milhões de reais já não sabe mais se desdenha do coronavírus ou se diz que “é um bicho perigoso”. Em crise de identidade, não usa máscara, mas faz campanha em favor do uso. Ao mesmo tempo em que chama a vacina chinesa de veneno, aplica-a no braço da mãe.

O devoto da cloroquina, em frente aos presidentes da Câmara, do Senado e do STF, fala em união nacional, para, logo em seguida, atacar governadores e prefeitos. E ao mesmo tempo em que jura ser combatente aguerrido da corrupção, convida Valdemar Costa Neto para a posse de uma ministra indicada pelo próprio.

Bolsonaro consegue, em um intervalo de poucas horas, gritar “acabou, porra” para a Suprema Corte e abraçar um ministro amigo. É capaz de falar em estado de sítio às 10h e negar que tenha falado, uma hora depois. Ofende o tal do “mercado” às 16h e janta com o mesmíssimo “mercado” às 20h.

Ataca decisões monocráticas e as defende. Ataca CPI’S e as incentiva. Ataca a vacinação e a promove. A única coisa em comum aos dois Bolsonaros – o tchutchuca e o pistola – é a defesa cega do fictício tratamento precoce. Isso prova que, ignorância, não é exclusividade de ninguém. Ao contrário. É extremamente democrática.

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Assim, o verdugo do Planalto, mais uma vez, assume simultaneamente duas personagens (ambas falsas, diga-se de passagem), a fim de tentar se equilibrar na corda bamba que une, de um lado, o fim do mandato – e até uma possível reeleição -, e de outro, o impeachment e, no limite, uma dura condenação criminal.


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