01/10/2020 - 9:05
Jair Bolsonaro vem colecionando feitos históricos, nada abonadores. A cotação nominal do dólar é a mais alta de todos os tempos. As queimadas na Amazônia e no Pantanal são as maiores das últimas décadas. O troca-troca nos ministérios é recorde para um período inferior a dois anos de mandato. E agora, o número de desempregados atingiu o maior nível desde o início da Pnad (amostra por domicílios) contínua. O “mito” também é recordista em preços de arroz e gasolina.
No quesito “estelionato eleitoral”, o amigão do Queiroz também mostra-se insuperável. Prometeu combater a corrupção, mas vem destruindo a Lava Jato. Prometeu jamais fazer conchavos políticos, mas aliou-se ao Centrão. Prometeu ser reformista e liberal, mas tornou-se um mero populista eleitoreiro. Criticava o Bolsa Família, mas está criando o Renda Cidadã. Prometeu reduzir o Estado, mas está propondo novos impostos.
Do lado moral e ético, melhor sorte não assiste ao maridão da “Micheque”. Conchavou-se com Dias Toffoli, para proteger o Rei do Panetone, o bolsokid Flávio Rachadinha, e com Davi Alcolumbre, para minar os projetos de endurecimento das leis anticorrupção e prisão após condenação de segunda instância, a fim de agradar os deputados e senadores enrolados com a Justiça, e assim garantir proteção ao outro pimpolho, o Dudu Bananinha.
Dentre as mentiras escandalosas que Bolsonaro conta, está o proclamado “ótimo time” de ministros e secretários. Quais? Damares? Mario Frias, o quinto na Cultura, após Regina Duarte (tadinha), Roberto Alvim (fã de Goebbels) e outros dois pobres coitados? Milton Ribeiro, o pastor homofóbico e ministro (meu Deus!) da Educação, que substituiu Abraham Weintraub (que “vazou” do País), e que substituiu, como é mesmo o nome?, Ricardo Vélez (o breve)? Ou quem sabe Sérgio Camargo, da Fundação Palmares? Ah, me esqueci do Ricardo “Nero” Salles, o ministro do desmatamento, hehe.
E o que dizer das escolhas técnicas, sem interferência política? Onde está Sergio Moro? Onde está Henrique Mandetta? Onde está Salim Mattar? Onde está Mansueto Almeida? Onde está Paulo Uebel? Onde está Marcos Cintra? Dos ótimos quadros que iniciaram a equipe ministerial, só restaram, salvo esquecimento ou engano de minha parte, Paulo Guedes (por quanto tempo?), Tarcísio de Freitas e Tereza Cristina.
No campo das relações exteriores, o pai do arruaceiro digital Carlucho coleciona uma série de catástrofes. Se indispôs, de forma grotesca, com a França. E com a Alemanha e a Noruega. Com a Argentina e a China. Simplesmente os mais influentes países europeus ou nossos principais parceiros comerciais, ao lado dos Estados Unidos. Pelo menos com os americanos, diante tamanhas submissão e subordinação, estamos em paz. Até doação de cloroquina nós recebemos deles.
Por falar em cloroquina, ou melhor, em Covid-19, o negacionista desdenhou do vírus e seus efeitos. Como um psicopata, promoveu aglomerações e incentivou o não-uso de máscaras. Irresponsável, conclamou o povo à desobedecer as leis e a desrespeitar o isolamento social determinado por prefeitos e governadores. Em março, profetizou menos de mil mortes em todo o País. Em abril, disse que o vírus estava indo embora. Prometeu salvar o mundo com vermífugo, mas acabou oferecendo cloroquina às emas do Palácio.
Hoje o Brasil conta com quase cinco milhões de contaminados. Estima-se, no mínimo, oito vezes mais que isso. Quase duzentos mil mortos. Estima-se de 30% a 40% a mais. Por mortos por milhão de habitantes, somos o primeiro lugar dentre os países do G20. Em números absolutos, só “perdemos” para Estados Unidos e Índia. Sabem o que disse o nosso Presidente Pinóquio? “Estamos praticamente vencendo o vírus. O Brasil foi um dos países que melhor enfrentou a pandemia”. Então, tá, presida! Diga isso aos familiares e amigos das vítimas fatais. Só ontem foram quase mil mortos. Outra vez.
Acabou? Não. Infelizmente. Seu alvo preferencial, a imprensa, nunca esteve sob tamanha ameaça pós-regime militar. Mandou jornalistas calarem a boca. Ameaçou enchê-los de porrada. Incentivou seus bate-paus a agredirem verbalmente e fisicamente os repórteres. Seus alvos secundários, o Congresso e o Supremo, estiveram à beira da tentativa de um golpe (admitido por Eduardo Bolsonaro). Nossa democracia talvez deva ser grata ao… Queiroz! Do contrário, talvez o cabo e o soldado estivessem, hoje, me buscando para me dar uns belos petelecos. E Sara Winter seria ministra.
Caminhamos para o fim do segundo ano de mandato deste senhor. Parece um século, de tão estafado que estou. “Bem feito”, me dizem alguns amigos e inimigos. “Quem mandou votar nele?”. Pois é. Votei para me livrar da gangue lulopetista e do atraso que representam as esquerdas, e acabei recebendo algo tão nocivo e ruim quanto. E pior: hoje, cada vez mais parecido com o corrupto e lavador de dinheiro Lula da Silva, Bolsonaro caminha firme para uma possível e provável reeleição.
O leitor coerente e desapaixonado pode se perguntar: “como isso é possível, diante do quadro (real e incontestável) descrito acima?”. Bem, é possível por várias razões: Bolsonaro deixou de tretar diariamente com a imprensa. Enfiou sua viola golpista no saco e parou de pregar AI-5 e outras porcarias do gênero. Sentou no colo do Centrão, distribuiu cargos e verbas e formou base de apoio. Adotou o assistencialismo, que chamava de esmola ou Bolsa Farinha, e descobriu que os pobres votam.
Tudo isso somado, meus caros, trouxe o “coiso” para um patamar de 40% de aprovação. Caso o Brasil não degringole economicamente (o que é bem plausível) nem um Queiroz, ainda maior, apareça, a chance de um repeteco eleitoral, em 2022, com embate entre PT e Bolsonaro, é bastante provável. A alternativa seria uma candidatura forte, coesa, de centro-esquerda ou centro-direita. Mas quem? Moro? Mandetta? Huck? Caiado? Doria? Conseguiria algum destes chegar ao segundo turno? Conseguiria bater ou Bolsonaro ou um nome forte da esquerda?
Acabo de ler algumas manchetes do dia: “Avô estupra neta no dia do aniversário de nove anos; Mulher mata filhos de oito e dezoito anos à facadas e depois se suicida; STF confirma sentença do Júri e mantém absolvição de homem que esfaqueou a ex alegando “legítima defesa da honra”; Apenas 23% dos brasileiros confiam na Ciência; No leblon, ocupante de conversível e cliente de bar da moda trocam tapas; No restaurante Gero, em São Paulo, ricaços batem boca e ameaçam chamar delegados amigos; Em Minas, mulher é presa por andar nas ruas com crânio furtado de cemitério”.
Eis aí algumas pistas para a resposta da pergunta, feita ao final do parágrafo acima. O que fazemos, afinal, nós, os letrados; nós, os educados; nós, os limpinhos; nós… os brasileiros, para merecermos algo melhor do que o que temos hoje, aboletado em Brasília? É mera retórica para pensar no fim de semana. Abraços.