Um novo ano já começou, mas o sentimento de ressaca que amarga o cotidiano ainda não nos deixou. A realidade é bem mais dura do que as preces e desejos do Réveillon. Expectativas pelo fim da polarização entre os candidatos que se arvoram donos das verdades não parecem estar em nenhum horizonte do cenário eleitoral para 2022. A conciliação da Nação para consigo mesmo não se apresenta na maioria dos quadros pré-eleitorais. Pior. Essa não é uma escolha exclusiva dos políticos. Os eleitores também querem esse clima de enfrentamento.

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As pesquisas eleitorais confirmam o maniqueísmo. A luta entre o bem e o mal voltou à moda. O vilão e o herói são cultuados com a maestria do etnocentrismo tupiniquim. De pano de fundo, a volta das contaminações por Covid e suas variáveis, além da gripe H2N3 assombram até os mais otimistas. Os fantasmas estão soltos. As enfermidades não deveriam pautar a campanha eleitoral, mas elas estão sendo inevitáveis. A ressaca política do ano é saber que a guerra entre o nós e o eles, iniciado em 2018, ainda não acabou e é provável que não acabe em outubro.

A menor exposição dos presidenciáveis na primeira semana do ano é natural e esperada. Eles precisam estar preparados para a guerra da qual serão protagonistas este ano. A única exceção é o presidente da República, Jair Bolsonaro. Desesperado, ele não interrompeu sua campanha pela reeleição um segundo sequer. Como um náufrago, prestes a se afogar, ele se bate aguardando uma tábua de salvação. Pode encontrar. Também pode asfixiar ainda mais rapidamente.

A cisão nacional já aponta para um regionalismo que vai escancarar ainda mais as desigualdades sociais. No centro-oeste, por exemplo, fazendeiros colocam na beira da estrada outdoors em apoio ao presidente. A campanha antecipada é descarada. Mas isso é Brasil. Essa é uma agenda de menor importância, mas que vai dar o tom nos estados e, de certo, contaminar os debates no Congresso. Se for aberta a caixa preta das emendas parlamentares, certamente muita barganha pode ser explicitada nesse momento.

Temas nacionais de grande relevância, especialmente de ordem econômica, como fome, desemprego, investimento público, habitação, segurança, educação, transportes, meio ambiente, entre outros devem orientar os discursos dos candidatos. Ao contrário do que aconteceu em 2018, quando, sem qualquer constrangimento, o vencedor não apresentou um plano de comando para o País. Sobre os rumos da economia disse que escolheria alguém para tomar conta do assunto, porque ele não entendia nada de economia. O resultado foi que o escolhido, Paulo Guedes, é outro que sabe muito pouco o que fazer para promover a retomada do desenvolvimento. Depois ficou provado que ninguém do atual governo entende algo sobre qualquer coisa.

Entretanto, há algo possível num ano tão pouco auspicioso. Ele precisa ser encarado como o ano da virada e do sepultamento de um quadriênio insano. Assim como houve o fim do período das trevas na idade média, novas cores devem nascer para 2023. Até lá, a única esperança que nos alimenta é atravessar a tempestade da melhor maneira possível. A ressaca de 2022 vai demorar a passar.