Bolsonaro recorre a Tarcísio e senadores para o defenderem no inquérito do golpe

Governador de São Paulo e aliados no Congresso foram incluídos no rol de testemunhas de defesa do ex-presidente em denúncia da PGR

Alan Santos/PR
Tarcísio de Freitas abraça Bolsonaro: governador de São Paulo foi ministro do ex-presidente Foto: Alan Santos/PR

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recorreu aos seus principais aliados para testemunharem a seu favor no inquérito sobre o golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao todo, Bolsonaro apresentou 13 nomes como testemunhas na defesa prévia enviada à Suprema Corte na quinta-feira, 6.

Na lista estão o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), senadores, ex-ministros e ex-comandantes das Forças Armadas. Há ainda ex-assessores, além do advogado apontado como criador da minuta do golpe.

+ Bolsonaro inclui militares contra plano golpista no rol de testemunhas no STF

Tarcísio, por exemplo, é um dos principais aliados de Bolsonaro e foi seu afilhado político nas eleições de 2022. Antes, o atual chefe do Palácio dos Bandeirantes foi ministro da Infraestrutura na gestão bolsonarista.

Após a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente, Tarcísio afirmou haver “revanchismo” e “forçação de barra” na peça. A tendência é que o governador paulista aceite a condição de testemunha de defesa de Bolsonaro.

Entretanto, Tarcísio deixou o Palácio do Planalto em março de 2022, antes mesmo do avanço do plano golpista entre a cúpula bolsonarista. Mesmo com contatos frequentes com Bolsonaro, fontes afirmaram que o chefe do Palácio dos Bandeirantes não foi consultado em nenhum momento sobre o plano golpista.

Tarcísio de Freitas não é o único que deve testemunhar a favor de Bolsonaro no STF. O ex-presidente também nomeou seus ex-ministros da Casa Civil, do Desenvolvimento Regional e do Turismo para deporem no inquérito. Hoje senadores, Ciro Nogueira e Rogério Marinho foram incluídos na lista e também tendem a prestar depoimento se chamados.

Nogueira foi ministro da Casa Civil de Bolsonaro no final da gestão. Ele foi citado na delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid como um dos membros do núcleo democrático, que pedia a aceitação da derrota para Lula e a criação de uma oposição forte no Congresso Nacional.

Presidente do Progressistas, Ciro Nogueira é líder da minoria e atua como um dos homens fortes da oposição no Congresso. Seu partido, porém, tem atuado no governo Lula e possui o Ministério dos Esportes, comandado por André Fufuca.

Já Rogério Marinho é hoje um dos principais braços direitos de Bolsonaro. Líder da oposição no Senado, Marinho comandou o Desenvolvimento Regional até março de 2022, quando deixou o cargo para disputar uma vaga no Senado.

Ele também tem forte atuação na oposição e é um dos maiores articuladores do PL da Anistia, que pode beneficiar o ex-presidente no Congresso Nacional.

Outro ex-ministro incluído na lista é Gilson Machado, que comandou o Turismo até março de 2022. Ele também é considerado um dos principais aliados do ex-presidente atualmente e é outro que deve prestar depoimento ao STF.

Assim como Tarcísio, Rogério Marinho e Machado também deixaram o Palácio do Planalto antes do avanço do plano golpista entre os bolsonaristas.

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que foi vice de Bolsonaro entre 2019 e 2022, também foi colocado na lista de testemunhas. Mesmo aliado, Mourão teve sua relação estremecida com o ex-presidente após desentendimentos e críticas internas. O deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), que foi ministro da Saúde no governo de Jair Bolsonaro, é outro que está no rol de depoentes.

Advogado e militar nomeado por Lula

Para tentar ser absolvido no processo, o ex-presidente ainda conta com o advogado Amauri Feres Saad, que chegou a ser indiciado pela Polícia Federal no inquérito do plano golpista. Para a PF, Saad foi o responsável pela digitação da minuta do golpe de Estado. Ele foi um dos poucos que não foram denunciados pela PGR ao STF neste primeiro momento.

Outro nome que Bolsonaro quer a seu favor é o do general Júlio César de Arruda, ex-comandante do Exército no governo Lula. Arruda foi nomeado pelo petista e assumiu o cargo antes mesmo da posse do atual presidente da República. Ele deixou o cargo um mês depois, após não cumprir a ordem de demitir um militar bolsonarista.

O ex-chefe do Planalto ainda deverá contar com seus assessores da época em que era presidente. Na lista estão os nomes de Coronel Wagner Oliveira da Silva, ex-número 2 do Ministério da Defesa, e de Renato de Lima França, ex-subchefe de Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência da República no fim de seu mandato. Outra testemunha deverá ser Jonathas Assunção Salvador Nery de Castro, ex-secretário-executivo da Casa Civil, braço direito de Ciro Nogueira na época.

Militares contra o golpe

O ex-presidente Jair Bolsonaro incluiu o general Marco Antônio Freire Gomes (ex-comandante do Exército) e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior (ex-comandante da Aeronáutica). Ambos foram contra o plano golpista apresentado pela cúpula bolsonarista.

Freire Gomes e Baptista Júnior participaram da reunião com Bolsonaro e o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos – também denunciado – no fim de 2022, no Palácio do Planalto. No encontro, de acordo com a Polícia Federal, o ex-presidente da República apresentou um plano golpista e pressionou os comandantes das Forças Armadas por apoio.

A PF aponta que os dois militares incluídos como testemunhas de Bolsonaro foram contrários ao plano apresentado pelo ex-chefe do Planalto. Freire Gomes, inclusive, teria ameaçado Jair Bolsonaro de prisão caso alguma ação golpista fosse tomada.

A IstoÉ entrou em contato com a defesa de Freire Gomes para saber se o militar participou ou não do depoimento como testemunha de defesa. Até o momento, não houve retorno. A reportagem ainda tenta localizar a defesa de Baptista Júnior.

Veja a lista completa de testemunhas:

  • Amauri Feres Saad – Advogado, apontado como criador da minuta do golpe.
  • Coronel Wagner Oliveira da Silva – Ex-número 2 do Ministério da Defesa. Foi nomeado para atuar na comissão de fiscalização das urnas eletrônicas nas eleições de 2022.
  • Renato de Lima França – Ex-subchefe de Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência da República.
  • General Eduardo Pazuello – Deputado federal e ex-ministro da Saúde.
  • Rogério Marinho – Senador da República e ex-ministro do Desenvolvimento Regional.
  • General Hamilton Mourão – Senador da República e ex-vice-presidente da República.
  • Ciro Nogueira – Senador da República e ex-ministro da Casa Civil.
  • Tarcísio Gomes de Freitas – Governador do Estado de São Paulo.
  • Gilson Machado – Ex-ministro do Turismo.
  • General Marco Antônio Freire Gomes – Ex-comandante do Exército durante o governo Bolsonaro.
  • Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior – Ex-comandante da Aeronáutica durante o governo Bolsonaro.
  • General Júlio César de Arruda – Ex-comandante do Exército. Foi nomeado por Lula para assumir ainda em dezembro de 2022, mas foi demitido em janeiro de 2023, após não acatar um pedido do petista para a demissão de um militar bolsonarista.
  • Jonathas Assunção Salvador Nery de Castro – Ex-secretário-executivo da Casa Civil, braço direito de Ciro Nogueira na época.