Bolsonaro queria que Forças Armadas apontassem fraude nas urnas, diz Cid em delação

Bolsonaro queria que Forças Armadas apontassem fraude nas urnas, diz Cid em delação

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), afirmou em delação premiada à Polícia Federal que o ex-presidente desejava que o relatório produzido pelas Forças Armadas a partir do acompanhamento das eleições de 2022 apontasse fraude nas urnas eletrônicas, mesmo que a apuração dos militares não tenha indicado isso.

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“Ele [Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa e chefe das Forças Armadas, responsável pelo relatório] não queria. Ele queria ouvir mais a equipe técnica dele, tinha medo. Só que o presidente [Bolsonaro] queria que os documentos fossem mais duros, assertivos. Que ele dissesse que teve fraude, nos documentos dele“, afirmou Cid.

Os vídeos do depoimento do militar, que balizaram a investigação da Polícia Federal sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) naquele pleito, tornaram-se públicos nesta quinta-feira, 20, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). A apuração da PF fez Bolsonaro ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por cinco crimes.

 

Os fardados e as urnas

Em 2022, as Forças Armadas foram convidadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a formar uma Comissão de Fiscalização para acompanhar o processo eleitoral.

Embora não tenha apontado qualquer indício de fraude, o relatório divulgado pela instituição após o pleito dizia que os militares não tiveram acesso ao código fonte das urnas, o que contribuiu para alimentar as narrativas bolsonaristas.

Bolsonaro tardou a reconhecer a derrota eleitoral e seguiu descredibilizando o processo. Segundo a PF, a estratégia municiava acampamentos montados em frente a quartéis do Exército para demonstrar apoio popular à ruptura.

“Uma coisa que eu sempre falei é que, por mais que a busca foi [tenha sido] incessante, não foi encontrada fraude nas urnas e o Exército não iria apoiar [a alegação de que o sistema foi fraudado, principal argumento para a narrativa golpista]”, afirmou o tenente-coronel, na delação.

Segundo Cid, tanto Nogueira quanto o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, não tinham conhecimento do Punhal Verde e Amarelo, plano que previa os assassinatos de Lula, Moraes e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para concretizar a ruptura democrática.