A erradicação da violência é seu grande tema de campanha, em um país considerado um dos mais perigosos do mundo. Jair Bolsonaro (PSL) seduziu dezenas de milhões de eleitores com soluções simples e radicais para um problema que preocupa os brasileiros.

A receita do capitão da reserva do Exército para combater a insegurança é liberar o porte de armas e abrir a via às execuções extrajudiciais.

Na primeira foto publicada no aplicativo Instagram após o atentado sofrido em 6 de setembro, durante comício em Juiz de Fora (MG), o candidato da extrema direita apareceu posando imitando uma arma de fogo com as mãos.

O gesto virou sua marca registrada e passou a ser reproduzido durante atos de campanha em fotos em que aparece, sorrindo, com crianças, à frente de cartazes com a inscrição “Mito”, como é chamado por seus simpatizantes.

A violência armada é uma praga para os 208 milhões de brasileiros, sendo a causa, no ano passado, do recorde de 63.800 mortes e que em sete anos produziu mais mortos do que a guerra na Síria.

Como lutar contra uma criminalidade que produz, no maior país da América Latina, mais de sete mortes por hora?

“Garantir o direito à legítima defesa ao cidadão de bem”, respondeu Bolsonaro em um vídeo postado nas redes sociais.

“Se tiver alguém assaltando, aí qualquer um de nós, civil ou militar, se der 20 tiros em cima desse cara, é bem dado. Deve ser condecorado e não processado”, declarou o candidato durante evento de campanha em agosto, em Madureira.

Um discurso simples que faz eco em pessoas como Jamaya Beatriz, manicure moradora deste tradicional subúrbio da zona norte do Rio.

“Eu moro em área de risco”, explicou a jovem. “Se alguém entrar na minha residência, quero ser capaz de poder defender minhas crianças”.

– Crimes de ódio –

Para Sara Winter, ex-ativista do grupo Femen e candidata do DEM-RJ a deputada federal, Jair Bolsonaro “é o melhor candidato a presidente da República porque é o único que tem projetos de lei de verdade para enfrentar a violência sexual contra a mulher: armar as mulheres para que elas possam se defender, aumento de pena para estupradores e castração química para eles também”.

Mas após o atentado sofrido em setembro, Bolsonaro se tornou ele próprio vítima de violência, e circula cercado de policiais federais, a priori armados, encarregados de garantir sua segurança.

As armas de fogo abundam no país, não apenas nas mãos de traficantes que cruzam a fronteira com países vizinhos, como Bolívia e Colômbia, mas também vendidas no mercado negro por policiais ou militares corruptos.

Mas Bolsonaro garante: “armas não geram violência”.

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos fez com “os crimes de ódio aumentarem consideravelmente porque as pessoas por trás deste tipo de ação se veem legitimadas por uma pessoa como ele”, avalia Glauber Sezerino, sociólogo e copresidente da associação Autres Brésils.

Com Bolsonaro eleito, o risco é ver “redes de extrema direita brasileira (se lançarem às) vias de fato contra populações negras, homossexuais, transgênero ou até mesmo partidários da esquerda”, acrescentou.

Bolsonaro prometeu a liberalização do porte de armas. Ele poderia se inspirar nos “Estados Unidos, onde se pode comprar armas de baixo calibre no Wall-Mart”, disse Sezerino, em alusão à gigante varejista americana.

No Parlamento, ele também poderá contar com o apoio da “bancada da bala”, grupo pró-armas que faz um importante lobby.

– “Temporada de caça” –

Bolsonaro também afirmou que aliviaria a obrigação de avaliação psicológica antes da compra de uma arma e reduziria o tempo de espera para o porte, que atualmente pode levar meses.

Nas áreas mais perigosas do país, Bolsonaro, que afirma que “bandido bom é bandido morto”, poderá “abrir a temporada de caça” aos criminosos, alerta Sezerino.

Ele se apoiaria em prerrogativas presidenciais, como a instauração do estado de sítio em áreas onde a violência sair do controle, convocando o Exército e as Forças de Segurança Nacional.

Estaria aberta a via às execuções extrajudiciais em massa, como as registradas aos milhares nas Filipinas em nome do combate às drogas do presidente Rodrigo Duterte e pelas quais nenhum policial foi processado.

No Brasil, a Polícia já é letal: esta força matou no ano passado 5.144 pessoas durante operações, uma cifra em alta de 20%.

Mas a violência não se restringe às áreas urbanas.

Para Bolsonaro, “os grandes proprietários de terras deveriam ter mais facilidade de acesso ao porte de armas para enfrentar movimentos de trabalhadores rurais sem terra”, acrescentou Sezerino.

“Vamos expulsar as pessoas que fazem ocupações”, diz Bolsonaro. E isso o farão pela força.