Estamos vivendo o momento político mais grave desde a promulgação da Constituição, em outubro de 1988. É a crise mais longa e profunda. Mais longa no tempo, vêm desde a década passada; e mais profunda, pois atinge todas as instituições. A pandemia potencializou ainda mais a instabilidade política com terríveis reflexos sociais e econômicos. A combinação perversa de diversas crises associada a uma ausência de lideranças políticas paralisou o País. Como não há vazio no poder, logo o espaço foi ocupado por uma caterva que, por definição, estava absolutamente despreparada para governar. Uma das maiores economias do mundo passou a ser comandada por uma malta que associou o desejo de se locupletar — vide, entre outros tantos exemplos, a compra das vacinas e as denúncias de corrupção — com o extremismo político inconstitucional e antinacional. Com esta combinação demoníaca o bolsonarismo transformou o Brasil em uma República bananeira ao estilo da República Dominicana na época de Rafael Trujillo.

Não há setor que não tenha sido atingido pelo caos político-social do bolsonarismo

Ainda não é possível ter uma resposta assertiva das razões que levaram ao Brasil a este triste momento. É possível apontar alguns possíveis fatores, mas o desenrolar da crise, cada vez mais veloz, deve alcançar o ponto de inflexão nas próximas semanas. E aí poderá ser possível obter uma visão de totalidade deste processo. Tudo indica que o custo para o País será muito alto. Na pandemia logo atingiremos 600 mil óbitos. Famílias foram destruídas. A história pessoal de dezenas de milhares de brasileiros terá de ser reescrita. A economia está em marcha lenta e sem um rumo seguro. Nossa presença internacional é cada vez menos relevante: o isolamento é uma triste realidade. Isto trará — e já está trazendo — sérias dificuldades à Nação nos campos diplomáticos e econômicos. Os reflexos da pandemia na educação foram devastadores. O significado no processo de alfabetização e, consequentemente, na qualificação da força de trabalho e na formação da cidadania. Não há setor no País que não tenha sido atingido pelo caos político-social do bolsonarismo.

A militarização do Estado — que levou às Forças Armadas a serem sócias do governo Bolsonaro —, a quebra da cadeia de comando das polícias militares, o incentivo aos grupos paramilitares, o culto da violência, as campanhas criminosas de ataque às instituições democráticas e de injúria, calúnia e difamação das autoridades, vão cobrar um alto preço para o Brasil. E será maior quanto mais tempo Jair Bolsonaro permanecer no poder.