Acuado pela CPI da Covid e em queda livre nas pesquisas, Bolsonaro tenta sair das cordas e não hesita nem mesmo em usar sua delicada situação de saúde na tentativa de melhorar sua desgastada imagem junto à opinião pública. Politiza a própria doença, assim como havia feito com a pandemia e com as vacinas. Mesmo com o diagnóstico de obstrução intestinal, e na iminência de ter que realizar mais uma cirurgia, o mandatário procura fazer do limão uma limonada e não deixa passar a oportunidade de criticar o PT, hoje seu principal oponente na corrida presidencial. Um oportunismo mórbido.
Quando ainda estava numa cama do Hospital das Forças Armadas, de Brasília, na tarde desta quarta-feira, 14, Bolsonaro autorizou que seu filho Carlos publicasse em suas redes sociais uma foto em que ele aparece sem camisa e com os sinais da cirurgia que fez em 2018 para se curar da facada desferida por Adélio Bispo. No texto que complementava a publicação no Facebook, Bolsonaro lembrou que o agravamento do seu estado de saúde foi “conseqüência da tentativa de assassinato promovida por antigo filiado ao PSOL, braço esquerdo do PT”. Uma leviandade, pois o PSOL foi criado por dissidentes petistas que não concordavam com a face de corrupção adotada pelo partido de Lula após o mensalão e o petrolão. São partidos distintos.
Ao usar a obstrução intestinal para atacar os adversários, Bolsonaro repete o que fez em setembro de 2018, após o atentado praticado por Adélio Bispo: utilizou o caso para se vitimizar e graças a isso acabou vencendo a eleição. Naquela oportunidade, ele ficou várias semanas no hospital e não precisou nem participar de debates no segundo turno para se eleger. Talvez por isso ele conte agora com os novos problemas de saúde para obter uma trégua na CPI do Senado e tentar abafar as denúncias de corrupção que atingem o seu governo em relação à compra superfaturada de vacinas. Os problemas intestinais vieram em boa hora.