Coluna: Guilherme Amado, do PlatôBR

Carioca, Amado passou por várias publicações, como Correio Braziliense, O Globo, Veja, Época, Extra e Metrópoles. Em 2022, ele publicou o livro “Sem máscara — o governo Bolsonaro e a aposta pelo caos” (Companhia das Letras).

Bolsonaro pede anistia, mas até hoje não fez gesto para pacificar país

Jair Bolsonaro quer anistia, mas não faz gestos na tentativa de acalmar o país. Pelo contrário

Fernando Frazão/Agência Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Jair Bolsonaro quer ser anistiado pela tentativa de golpe de Estado e pelos demais crimes de que é acusado. Mas, até hoje, apesar de sucessivas tentativas de ataques terroristas em curso no país, o ex-presidente foi incapaz de desautorizar qualquer tipo de empreitada do gênero, dizer em claro e bom som que quem nega a democracia é um traidor da pátria e, assim, ao menos junto a seus eleitores, tentar pacificar o país. Bolsonaro quer anistia sem querer fazer gesto algum para acalmar os ânimos dos seus. Pelo contrário: segue atiçando o ódio.

atentado frustrado em novembro do ano passado, em que um terrorista acabou se matando após tentar entrar no Supremo com explosivos, foi o mais recente de uma série de outros episódios em que fanáticos bolsonaristas ameaçaram a segurança nacional. Em todos esses, um líder democrata diria, sem rodeios, que aquelas pessoas eram criminosas que precisavam ser presas e que nada justificava seus atos. Diria que atacar o Supremo ou qualquer tipo de violência era algo inaceitável. Diria que a vida humana está acima de tudo e que explodir caminhões, um tribunal ou incendiar ônibus são medidas inaceitáveis.

Um líder democrata, aliás, não se empenharia em anistiar pessoas que atacaram as sedes dos Três Poderes, fosse qual fosse a razão. Mas Bolsonaro não pode criticar aquelas pessoas. Precisa delas porque ali estavam fanáticos que chegaram àquele ponto após passarem por uma lavagem cerebral de anos, em que suas dietas informacionais foram reduzidas à manipulação da bolha que o presidente e seus aliados alimentam diariamente nas redes sociais. Nela, são eleitos inimigos de ocasião, contra quem a matilha é direcionada ao gosto da família. “Vai lá e morde!”, gritam Bolsonaro, Carluxo, Eduardo. No 8 de Janeiro, a cachorrada foi lá e mordeu.

Conforme o vasto repertório de provas colhidas pela Polícia Federal indica, as pessoas por trás do golpe que vinha sendo tramado nos meses anteriores ao 8 de Janeiro não são democratas. Eram golpistas, tal qual foram os de 1964, os 1968 ou os que tentaram, no fim da ditadura, atiçar de novo os ânimos para tentar inviabilizar a abertura política. E eram terroristas, uma gente que acha legítimo o uso de violência para atingir seus fins — como um certo capitão a quem foram atribuídos croquis planejando explodir bombas em quartéis e no sistema de abastecimento de água para pressionar por melhores soldos.

A anistia conta com a antipatia maciça do povo brasileiro. Em janeiro, a Quaest mostrou que 86% dos brasileiros desaprovam as invasões de 8 de janeiro de 2023. Em dezembro, o Datafolha mostrou que 62% dos brasileiros se disseram contra conceder anistia aos golpistas. A ver se o Congresso pensa da mesma maneira.

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