O presidente da República busca por todos os meios enfraquecer o Estado democrático de Direito e ataca sistematicamente os valores consubstanciados na Carta de 1988. É uma estratégia: a desmoralização das instituições, a desqualificação dos valores democráticos, as ameaças aos meios de comunicação e aos jornalistas e o tratamento de seus opositores como inimigos do Brasil. Isso produz sistematicamente a instabilidade política, pois ele não consegue conviver com a democracia. Diferentemente de outros momentos do autoritarismo brasileiro no século XX (reformista, centralizador e nacionalista), o objetivo final de Bolsonaro é a prevalência do Executivo e a submissão do Judiciário e do Legislativo. É um projeto de poder, e só.

Bolsonaro sabe que não está à altura do cargo, ele não consegue desempenhar as tarefas de um presidente da República, e nem o decoro exigido para função ele consegue ter. Na prática, exerce a desmoralização da instituição. Faz isso porque é o meio que encontrou para ir se mantendo no poder. Abandonou a agenda econômica nas últimas semanas e optou por atacar adversários reais ou imaginários. Isso ficou claro quando ocupou espaço na mídia com o que considera uma batalha ideológica — que não passou de um conjunto de grosserias e calúnias em escala nunca vista na nossa história.

Jair Bolsonaro tem o objetivo de ser o salvador da pátria em um momento de grave tensão política. Sabe que em 2022 pouco terá para apresentar em termos econômicos porque o espetáculo do crescimento foi uma quimera. Vai buscar culpados, quando a sua inépcia é a responsável pela estagnação econômica. Não vai causar admiração, se atribuir o fracasso a Paulo Guedes, mas na sua lista o Congresso Nacional será o principal alvo. Dirá que foi o Legislativo que o impediu de governar. A manifestação do próximo dia 15 faz parte desta estratégia, de emparedar o Parlamento e obrigá-lo a ser um simples chancelador das determinações do Palácio do Planalto. Além disso, ele deseja transformar o STF em um mero puxadinho do Executivo federal.

A busca da relação direta com o “povo” também faz parte do script autoritário, pois é necessário construir a persona de mártir, daquele que até daria a vida para salvar o Brasil. E que está aprisionado pela Constituição, pelo “sistema.” Não são acidentais os constantes elogios aos ditadores do Cone Sul. Assim, Jair Bolsonaro está mais próximo do velho caudilhismo latino-americano do que do fascismo italiano.

Jair Bolsonaro patrocina o caos, ele quer o caos, necessita dele. Por isso quebra diuturnamente o decoro. Na verdade, o presidente da República desmoraliza a Nação