Na semana passada, o presidente do INSS foi duramente criticado pela ausência de peritos para atender a população na reabertura das agências. Está certo: o serviço público tem uma hierarquia e o primeiro a ser chamado às falas quando o atendimento falha é o responsável pelo guichê.

Se o problema se alonga, no entanto, é sinal que os chefes do chefe não cobraram uma solução. Está na hora de apontar o dedo para eles. 

Os chefes do chefe são Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Eles não podem mais ser poupados pelo absurdo que continua a acontecer Brasil afora. Os segurados têm suas consultas confirmadas pelos sistemas de agendamento, deslocam-se até o posto e lá descobrem que não serão recebidos, porque não há médico perito no local. Há mais de 1,5 milhão de pessoas precisando de perícia.  

Lembremos que quem vai a uma perícia está com algum problema de saúde. O deslocamento até o INSS impõe uma dificuldade a essas pessoas, mesmo sem contar outras agruras, como o uso de sistemas ruins de transporte público. 

Os peritos alegavam na semana passada que as agências não oferecem condições sanitárias adequadas para que as consultas possam ser realizadas com segurança em meio à pandemia. Começaram a perder esse discurso nesta segunda-feira, pois vistorias foram realizadas na última sexta, e havia a expectativa de que o atendimento começasse a ser regularizado. Não foi o que aconteceu. Locais onde estava prevista a presença de médicos não abriram. Outros funcionaram com menos gente que o esperado. 

Os peritos estão certos ao exigir condições adequadas de trabalho. Quando faltam ao trabalho em agências vistoriadas, ou onde alguns de seus colegas concordaram em trabalhar, mostram que também estão alheios às necessidades das pessoas comuns. 

Mas isso não exime o governo de agir e se pronunciar. Até agora, tudo que houve foi a ameaça de descontar do holerite dos faltantes os dias não trabalhados. Nenhum sinal de que haverá acionamento da Justiça para obrigar funcionários públicos que prestam um serviço essencial a manter algum nível de atendimento. Não está claro o motivo dessa leniência. 

Exigir de Paulo Guedes alguma sensibilidade a problemas de gente comum provavelmente é perda de tempo. Mas Bolsonaro gosta de dizer que está próximo do povo. 

O presidente pôs a cabeça do Secretário da Fazenda Waldery Rodrigues a prêmio quando se tornou público que o governo estudava congelar aposentadorias e benefícios previdenciários para bancar  um novo programa social. Ele rugiu por causa de uma maldade que estava em estudo.

A maldade nas agências do INSS tem sido cotidiana, mas quanto a isso Bolsonaro não emitiu nenhum miado até agora.

O INSS vem sendo uma esculhambação há décadas. Não há por que esperar mudanças do governo que aí está.