BRASÍLIA, 18 JUL (ANSA) – O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (18) que nunca teve a intenção de deixar o Brasil, ao comentar as medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo o uso de tornozeleira eletrônica.
O ex-mandatário foi alvo de uma operação de busca e apreensão por parte da Polícia Federal e, devido ao risco de fuga, também foi proibido de sair de casa entre 19h e 7h e nos fins de semana, de manter contato com embaixadores, diplomatas estrangeiros, outros réus e com seu filho Eduardo Bolsonaro e de se aproximar de embaixadas.
“Nunca pensei em sair do Brasil e nunca pensei em ir a embaixada. No meu entender, o objetivo é a suprema humilhação”, declarou Bolsonaro a jornalistas após colocar a tornozeleira.
“Sair do Brasil é a coisa mais fácil que tem”, acrescentou ele, que se disse “sufocado” e definiu o temor de uma eventual fuga como “exagero”.
O ex-presidente também criticou a operação da PF e confirmou a apreensão de US$ 14 mil e R$ 7 mil em dinheiro vivo, mas negou que o dinheiro estivesse destinado a um plano para fugir do país. “Sempre guardei dólar em casa, e todo dólar tem o recibo do Banco do Brasil. Eu tirei no corrente ano e declaro no ano que vem no imposto de renda”, assegurou. A polícia ainda apreendeu um pendrive escondido em um banheiro, mas o ex-mandatário não soube explicar o que há no dispositivo.
Durante a coletiva, Bolsonaro voltou a acusar o STF de promover um “inquérito político” no caso da trama golpista, no qual ele arrisca pegar mais de 40 anos de prisão. “Não tem prova de nada, um golpe no domingo, sem Forças Armadas, sem armas, um golpe de festim, mas espero que o julgamento seja técnico”, afirmou, em referência à insurreição bolsonarista de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente invadiram as sedes dos três poderes para exigir intervenção militar e a derrubada de Luiz Inácio Lula da Silva.
A operação contra Bolsonaro foi realizada no âmbito de um novo inquérito sobre as atividades de Eduardo junto ao governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para pressionar a Justiça brasileira a interromper o processo da trama golpista.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, o filho do ex-mandatário, que está licenciado nos EUA, é suspeito de coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O inquérito foi aberto em 11 de julho, dois dias após Trump anunciar um tarifaço de 50% contra mercadorias do Brasil, punição motivada principalmente pelo processo contra Bolsonaro.
Em sua petição ao Supremo, a PGR lista uma série de declarações de Eduardo que indicam que ele atuou para obter punições americanas ao Brasil. Segundo a decisão de Moraes, essas atividades têm “o claro objetivo de interferir na atividade judiciária e na função jurisdicional desta Suprema Corte e abalar a economia do país, com a imposição de sanções econômicas estrangeiras à população brasileira”.
“Ressalte-se, ainda, que a investigação comprovou a participação de Jair Bolsonaro nas condutas criminosas, não só incitando a tentativa de submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de outro Estado, com clara afronta à soberania nacional, mas também auxiliando, inclusive com aportes financeiros a Eduardo Bolsonaro, a negociação com governo estrangeiro para que este pratique atos hostis contra o Brasil, com clara ofensa”, acrescentou o ministro. (ANSA).