Ao ser questionado nesta sexta-feira, 26, sobre medidas para resolver o problema da fome no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que “fome para valer (no PaĆs) nĆ£o existe da forma como Ć© falado”. O chefe do Executivo alegou que, quem diz o contrĆ”rio, “sĆ£o pessoas que vendem mentiras”.
“Se eu falar para vocĆŖs nĆ£o tem fome no Brasil, amanhĆ£ o pessoal me esculacha na imprensa. Mas eles nĆ£o sabem a realidade se existe gente faminta no Brasil ou nĆ£o. O que a gente pode dizer, se for em qualquer padaria aqui nĆ£o tem ninguĆ©m ali pedindo para vocĆŖ comprar um pĆ£o para ele, isso nĆ£o existe. Eu falando isso eu estou perdendo votos, mas a verdade vocĆŖ nĆ£o pode deixar de dizer”, afirmou em entrevista ao Ironberg Podcast, do fisiculturista Renato Cariani.
“Quem por ventura estĆ” no mapa da fome pode se cadastrar, vai receber, nĆ£o tem fila o AuxĆlio Brasil. SĆ£o 20 milhƵes de famĆlias”, completou.
Mais cedo, em entrevista ao programa PĆ¢nico, da Jovem Pan, Bolsonaro rebateu a declaraĆ§Ć£o do ex-presidente Luiz InĆ”cio Lula da Silva (PT) de que a populaĆ§Ć£o tem que voltar a comer picanha. “A esquerda vende a ilusĆ£o de picanha para todo mundo, e eu digo: nĆ£o tem filĆ© mignon para todo mundo”, declarou o chefe do Executivo, em entrevista ao programa PĆ¢nico, da Jovem Pan.
Dados do 2Āŗ InquĆ©rito Nacional sobre InseguranƧa Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, lanƧado em junho mostram que 33,1 milhƵes de pessoas nĆ£o tĆŖm o que comer no PaĆs – patamares registrados pela Ćŗltima vez apenas nos anos 1990[ . A nova ediĆ§Ć£o da pesquisa mostra ainda que mais da metade da populaĆ§Ć£o brasileira (58,7%) convive com algum grau de inseguranƧa alimentar (leve, moderado ou grave).
Teto
No podcast, Bolsonaro tambĆ©m abordou a contrataĆ§Ć£o de professores de educaĆ§Ć£o fĆsica para as escolas pĆŗblicas, segundo ele, as consequĆŖncias de ampliar as despesas sĆ£o as “piores possĆveis” devido ao efeito sobre o dĆ³lar e a bolsa. O chefe do Executivo ressaltou a restriĆ§Ć£o orƧamentĆ”ria no PaĆs e disse que vai manter o teto de gastos – a regra que limita o crescimento das despesas do governo Ć inflaĆ§Ć£o do ano anterior.
“Hoje em dia, muita gente reclama sobre isso aĆ (teto). Mas eu entendo que, se vocĆŖ ampliar os gastos, as consequĆŖncias serĆ£o pĆ©ssimas para todo mundo. EntĆ£o, vamos manter o teto de gastos e, na medida do possĆvel, atendendo nem que seja a conta-gotas anseios como esse”, disse Bolsonaro. “Tem que fazer uma conta bem feita, atĆ© porque o meu governo foi o primeiro que tem teto de gastos. Eu tenho um limite para gastar. Quanto mais eu empurro de um lado, vou ter que tirar de outro lugar. VocĆŖ nĆ£o tem como tirar de outro lugar, estamos no limite do limite”, emendou.
O presidente disse que o gasto com servidor pĆŗblico Ć© “bastante alto” no Brasil, mas voltou a sinalizar que deve haver reajuste salarial para as categorias em 2023. “NĆ£o dĆ” para a gente aumentar despesas ou prometer durante um perĆodo eleitoral como o que gente estĆ” agora para ganhar simpatia dos nossos muitos professores de educaĆ§Ć£o fĆsica”, disse Bolsonaro.
Na prĆ”tica, o governo Bolsonaro “driblou” o teto de gastos em diversos momentos nos Ćŗltimos anos. Na ocasiĆ£o mais recente, o Executivo conseguiu aprovar no Congresso uma emenda constitucional que decretou emergĆŖncia no PaĆs para viabilizar o aumento do AuxĆlio Brasil de R$ 400 a R$ 600, atĆ© o final do ano, e a concessĆ£o de novos benefĆcios sociais, Ć s vĆ©speras das eleiƧƵes e fora do teto. No final de 2021, os parlamentares aprovaram outra medida que adiou o pagamento de precatĆ³rios e liberou mais de R$ 100 bilhƵes no OrƧamento de 2022.