O mandato de Bolsonaro nunca esteve tão ameaçado. A CPI da Covid vai expor as vísceras do seu governo, exatamente no ponto mais frágil da sua nefasta gestão: quase 400 mil mortes que poderiam ter sido evitadas se ele tivesse adotado medidas científicas e providenciado as vacinas bem mais cedo. Seus erros genocidas virão a público com a CPI, que deverá ter os senadores Omar Aziz na presidência, Randolfe Rodrigues na vice e Renan Calheiros na relatoria. Bolsonaro fez de tudo para impedir que Renan fosse o relator e tentou impor o nome de Marcos Rogério. Esqueceu-se que na democracia o que vale é a posição da maioria e os senadores contrários a ele na CPI somam 7, contra 4 governistas. O presidente começa encurralado no canto do ringue, podendo ir a nocaute ao final.

Cloroquina

Bolsonaro e Pazuello terão que explicar por que recomendaram a ineficaz cloroquina ao invés de comprarem vacinas, oxigênio e remédios para intubação. Se a CPI for séria, os dois sairão condenados pelos graves erros cometidos. Não se trata de promover “uma caça às bruxas”, como disse o senador Aziz, mas de punir quem tiver que ser punido.

Polícia

A CPI será conduzida de acordo com técnicas adotadas nas investigações policiais. Para tanto, contará com a expertise do senador Alessandro Vieira, que é delegado de polícia. Vieira já elaborou a pauta dos procedimentos
a serem adotados na inquirição de testemunhas e um dos primeiros a serem chamados a depor será o ex-ministro Mandetta.

Um PM na Secom

coronel André de Sousa Costa
Divulgação

Bolsonaro prova que sempre pode piorar o que está ruim. Acaba de nomear o coronel da PM André de Sousa Costa para a Secretaria de Comunicação Social (Secom), cargo que era comandado pelo almirante Flávio Rocha. Esse posto já foi ocupado pelo lobista Fábio Wajngarten e mostra bem o que o governo deseja: um controle ideológico da mídia, onde só têm verbas públicas os veículos alinhados ao capitão.

Retrato falado

“A Justiça brasileira favorece a prescrição e a impunidade” (Crédito: Keiny Andrade)

Deltan Dallagnol, responsável pelas investigações da Lava Jato, resumiu assim a decisão do STF que anulou as sentenças de Lula: “A Justiça brasileira favorece a prescrição e a impunidade”. Explicou que o STJ já havia decidido que Curitiba deveria julgar o ex-presidente, mas agora o STF resolveu que a 13ª Vara Criminal do Paraná não é competente. “Se o processo tivesse tramitado em Brasília, a defesa questionaria o foro do mesmo jeito. É um jogo de perde-perde.”

Contas no vermelho

A patetice do governo com o orçamento de 2021 mal foi resolvida e a equipe de Guedes dá início a mais uma tragédia fiscal para 2022, ao elaborar agora em abril as Diretrizes Orçamentárias para o ano que vem. O Brasil terá, em 2022, um rombo de R$ 170 bilhões nas contas públicas, o que significa que o País ficará no vermelho por nove anos seguidos. Pior: a previsão é que só ficaremos no azul em 2026 ou 2027. Um fator de instabilidade para este e para o próximo governo. Mas, como a atual gestão é perita em armadilhas fiscais, mesmo com esse rombo Guedes prevê um aumento de despesas dentro do teto de gastos de mais de R$ 106,1 bilhões em 2022, contra os R$ 31 bilhões deste ano.

Reeleição

O aumento de gastos ocorre no ano eleitoral, com a previsão de R$ 17 bilhões em emendas parlamentares para obras — como já acontece neste ano, com R$ 31,3 bilhões em emendas — e com a destinação de recursos até mesmo para reajustes salariais dos servidores públicos: um orçamento a serviço da reeleição.

Toma lá dá cá

Randolfe Rodrigues, membro da CPI da Covid no Senado (Crédito:Pedro França)

A CPI conta com apenas 4 governistas. O governo perde com isso?
Ninguém pode ter preconceito para ser contra ou a favor de algo. O que deve balizar a CPI é a ciência. A CPI não vai perseguir o governo.

O que significa a escolha de Renan como relator e de Aziz como presidente?
Essa CPI terá um papel histórico. A história tem a porta de entrada da honra e também a da desonra. Acredito que o presidente e o relator terão o compromisso com o papel histórico que terão de cumprir.

Qual deve ser o maior foco das investigações?
Temos que descobrir por que viramos o epicentro da pandemia. Quais as ações e omissões? De quais autoridades? Por que não temos vacina desde dezembro? Quanto foi gasto com a cloroquina?

O rei da armação

Depois de ser acusado de participar de uma conversa armada com Bolsonaro para manipular a CPI da Covid, o senador Jorge Kajuru ficou sem clima para continuar no Cidadania, partido pelo qual se elegeu em 2018. Ele foi “convidado” a deixar a legenda presidida por Roberto Freire, que deseja moralizá-la e lançar Luciano Huck a presidente.

Edilson Rodrigues

Podemos

A alternativa de Kajuru foi se abrigar no Podemos, presidido pela deputada Renata Abreu. Agora, o Cidadania procura outro senador para ocupar a bancada do partido no Senado. Entre os nomes assediados está o da senadora Mara Gabrilli, do PSDB, que está desconfortável no ninho tucano depois das bicadas com o governador João Doria.

De volta ao lar?

Mateus Bonomi

O ex-capitão quer se filiar a um partido que tenha estrutura para enfrentar Lula, que tem a máquina de um fundo eleitoral de R$ 201 milhões. Pensa em se entender com Luciano Bivar, presidente do PSL, e retornar ao partido que usou para se eleger em 2018: o PSL tem um fundo eleitoral de R$ 199 milhões, mas Bivar não quer saber de conversa. Tentará o Patriotas.

Rápidas

* Lula já começa a fazer estragos na esquerda. Está procurando o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, do PSB, para ser seu vice. Mas o PSB, em São Paulo, tem Márcio França como candidato a governador, que vai rivalizar com Haddad, o candidato do PT ao cargo.

* O nome de Haddad para governador, aliás, está provocando outras fissuras na esquerda, já que Guilherme Boulos também anunciou sua candidatura ao governo pelo Psol. O PT não gostou. Quer Haddad como candidato único.

* A barafunda na esquerda se acentua com as recentes declarações de Ciro Gomes. Ele diz que não vai se alinhar ao PT de jeito nenhum, entendendo que o lulopetismo e o bolsonarismo fazem parte do mesmo problema brasileiro.

* A saída é a união do centro em torno de um candidato alternativo entre Lula e Bolsonaro. Ciro, Doria, Leite, Moro, Huck, Mandetta e Amoêdo precisarão chegar a um consenso: só um deles pode ser cabeça de chapa.