06/06/2023 - 7:14
A política raramente me surpreende, e certos políticos, nunca. Jair Bolsonaro, o ex-verdugo do Planalto, sempre foi um cara sem mistérios. Despreparado, tosco, corrupto, golpista, corporativista, fisiologista… escolha aí o amigo leitor, a amiga leitora o adjetivo pejorativo que preferir. Poucos não servirão como uma luva ao amigão do Queiroz.
“Ah, Ricardo, mas você votou nele”. Sim, é verdade. No segundo turno de 2018 contra o PT, eu votaria até no capeta. Porém, se eu soubesse, não quem ele era – ou o que era -, pois isso eu sabia, mas o que faria na Presidência e as consequências (700 mil mortos por covid, 8 de janeiro etc.), teria feito o que fiz em 2022 e nem sairia de casa para votar.
FICHA CORRIDA
O devoto da cloroquina colecionou crimes às pencas durante seu desgoverno autoritário e assassino. Entre inquéritos e processos em curso já são mais de 35. Sua inelegibilidade é mais certa que a alternância entre o dia e a noite – exceto para os terraplanistas bolsonaristas, que enviam sinais a ETs por celular em frente aos quartéis.
Assim, a forma de se livrar da cadeia, no futuro, é colecionar também amigos nos tribunais; inimigos já os tem de sobra. Quem não se lembra do abraço apertado e um beijo no rosto de Dias Toffoli, que depois paralisou todos os inquéritos do bolsokid Flávio, o senador dos panetones e das rachadinhas? Ou a pizza e jogo de futebol com Gilmar Mendes?
SOCIEDADE DO CRIME
Mais certo do que morte e impostos, é o compadrio entre políticos e governantes (enrolados com a lei) e juízes e ministros. Vejam Renan Calheiros e sua dezena de processos que dorme tranquila nas gavetas de Brasília. Aliás, vejam onde se encontra, hoje, Lula da Silva, o ex-tudo (ex-condenado, ex-presidiário, ex-corrupto e ex-lavador de dinheiro).
Ele, Lula, também conhecido como pai do Ronaldinho dos Negócios, indicou para o Supremo – como todos sabem – seu advogado pessoal, Cristiano Zanin. Tal infâmia poderá, ou melhor, poderia ser barrada no Senado. Sim, nossos ilibados e independentes senadores poderiam simplesmente dizer “não”. Mas aí não estaríamos na Banânia.
CORTEM-LHE A CABEÇA
O bolsominion mais exaltado poderia dizer: “que absurdo! Fechem o Congresso, prendam Rodrigo Pacheco”. Pois é. Esse mesmo bolsominion iria passar vergonha outra vez. Por quê? Bem, porque por determinação do “mito”, com a pronta conivência de Valdemar Costa Neto, outro frequentador assíduo das páginas policiais e presidente, ou melhor, dono do PL, a bancada bolsonarista não irá se opor à nomeação de Zanin.
O cálculo do maníaco do tratamento precoce é simples: “será o advogado lulopetista o meu juiz amanhã”. Aí está o verdadeiro Bolsonaro, o deputado do baixo clero que há mais de 30 anos se beneficia da estrutura que jura combater. O amigão do Queiroz sabe que precisará, senão do carinho de Zanin – como os supremos togados tiveram com o líder do mensalão -, ao menos de certa indiferença.
TUDO COMO DANTES
Como eu disse, lá no início, a política não me surpreende. Mais: certos políticos, também. Quando se junta o patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias com Valdemar Costa Neto, meus caros e minhas caras, além do mais puro fisiologismo você pode esperar tudo e mais um pouco, inclusive sociedade com o lulopetismo.
Bolsonaro, ainda assim, não poderá dormir tranquilo. Joias contrabandeadas, golpe, micheques, mortes por covid e “cositas más” não irão desaparecer do mapa, de um dia para o outro, com ou sem Zanin. Se eu fosse ele, deixaria em mãos o passaporte italiano que conseguiu. Vai que precise, muito mais do que uma toga amiga, de um autocrata cúmplice para lhe abrigar.