Dificilmente surgirá no Brasil – ou em qualquer outro país – um presidente tão mentiroso como Jair Bolsonaro. Nem mesmo Donald Trump, o mais vil dos líderes mundiais a mancharem a história do século 21, chegava perto da canalhice retórica do parvo que ocupa o Palácio do Planalto. Nós, brasileiros, já estamos acostumados a sua ignorância crônica, mas seu último giro turístico pela Europa alcançou níveis que, mesmo para ele, são impressionantes.

Não vou nem mencionar à citação fascista na visita ao húngaro Viktor Órban, outro crápula que voltará em breve ao esgoto de onde surgiu. Prefiro me ater a um detalhe na visita à Rússia: a declaração que Bolsonaro deu ao sair do encontro com Vladimir Putin. Não foi apenas uma ofensa à inteligência dos brasileiros, mas um desrespeito à história do povo russo.

A Rússia não é uma potência global à toa. Tem um povo determinado, honrado, que sempre lutou por seus ideais. Fizeram revoluções, expulsaram invasores como Napoleão e Hitler, foram as maiores vítimas nas batalhas contra o nazismo. Isso sem contar os inúmeros heróis que produziram na literatura, na música e nas artes plásticas. Goste-se ou não dos líderes do passado ou da ideologia vigente no país, é preciso respeitar sua história.

Putin faz um jogo perigoso. Mobilizar tropas na fronteira da Ucrânia é uma manobra arriscada para conter a expansão da OTAN, mas é legítima como estratégia geopolítica. Não é disso, no entanto, que trata esse texto. Minha revolta é com a tentativa de Bolsonaro de insinuar que sua visita teve alguma influência na decisão de Putin recuar seu exército, como anunciado na última terça-feira, 15.

Na ocasião, Bolsonaro disse o seguinte: “coincidência ou não, parte das tropas deixou a fronteira”. Foi a senha para que suas milícias digitais espalhassem imagens de sua “vitória diplomática” – uma delas defendia que ele merecia o Nobel da Paz. Seria apenas patético, se não fosse trágico.

A simples sugestão de que Bolsonaro possa ter tido qualquer influência sobre o anúncio de Putin é uma ofensa ao valoroso povo russo. Mereceria um desmentido pela chancelaria russa, se eles levassem o brasileiro a sério. Se Bolsonaro tivesse qualquer relevância no mundo diplomático, a frase teria graves consequências. Um líder que se preze não pode ser tão mentiroso. Não pode se vangloriar de ter feito algo que não fez, ainda mais diante de seu anfitrião.

Como representante do Brasil, o presidente, na prática, transforma os brasileiros em uma nação de mentirosos. “Coincidência ou não” é uma falsa dubiedade: Bolsonaro não havia nem chegado em Moscou quando Putin anunciou o tal recuo. O presidente brasileiro sabe disso, mas a verdade não lhe interessa. É um vândalo político, um homem sem escrúpulos. É um mentiroso patologicamente contumaz. Quis “tirar uma casquinha”, jogando para a plateia de mentecaptos como ele.

A verdade é que Putin nem sabe quem é Bolsonaro. Sua cabeça está ocupada com assuntos mais sérios. Se o russo soubesse que o brasileiro está se gabando de tê-lo influenciado, cairia na gargalhada. Ou o mandaria calar a boca e cuidar do seu próprio país em frangalhos, o que seria, inclusive, um conselho mais adequado. Quem não tem razão para rir somos nós, brasileiros, que somos obrigados a conviver com um presidente que nos envergonha, dia após dia, diante do mundo inteiro.