Tive um sonho.

Sonhei que Bolsonaro era o presidente dos Estados Unidos.

O inconsciente da gente prega umas peças às vezes, não?

Devo ter misturado eleições, com a facada de um e Covid-19 do outro.

Foi assim:

Na Casa Branca, o marqueteiro do presidente Bolsonaro balança a perna nervoso, aguardando para ser chamado.

— Qual o problema, Sampaio? Você está muito nervoso hoje. Quer um chazinho de erva cidreira? — pergunta a secretaria do líder do mundo ocidental.

— Quero. Hoje tô nervoso mesmo.

— O que houve? — a mulher prepara a infusão.

— Saiu à pesquisa depois do debate com o Lula.

— E? – ela serve numa xícara com o emblema do governo.

Sampaio apenas torce os lábios, indicando que os números não são nada bons.

— Vixi. O homem vai ter um treco. Mas calma, Sampaio. No final você sempre inventa uma ideia maravilhosa. — a secretaria acalma o marqueteiro justo quando Bolsonaro abre a porta.

— Eita! Tava esperando você, Sampaião! Vamos entrar. Dona Márcia, traz uma Cloroquina aqui pra nós, taoquei?

– Cloroquina, presidente?

– Cloroquina não! Tubaína. Eu falei Cloroquina? Ave Maria. Tô doido. Os dois entram no salão oval.

— Vamos, homem! Dá logo as boas notícias!

— Então, presidente… não são muito boas… — o assessor prepara o terreno.

Bolsonaro fecha a cara.

— Oxi. Como assim? Eu fiz tudo que você mandou! Interrompi todas as falas do comunista. Não deixei ele abrir o bico.

— Esse é o ponto, presidente. Parece que o pessoal não gostou… o senhor interrompeu demais…

— Ah pronto! Era só o que me faltava. Você manda eu cortar o sujeito e agora me diz que cortei demais!

O assessor prefere não responder. Bolsonaro continua.

— Desembucha logo de uma vez. Quanto? Quanto?

— Bom… depois do debate ficamos 14 pontos atrás.

O presidente levanta proferindo todo tipo de impropério, pior que na reunião de abril.

O assessor tenta acalmá-lo.

— Calma, presidente. Outros debates virão. O senhor vai virar esse jogo.

— Vou nada Sampaio. Esse desgraçado tem uma lábia dos infernos… o povo ama esse safado.

A secretária entra com a Tubaína e pisca para o marqueteiro.

— Mas o povo ama o senhor também, mito — Sampaio sabe que o presidente adora quando o chamam de mito.

— Que mito, que nada Sampaio. Esse homem veio de pau de arara do Texas pra cá. Fizeram até o filme lá…. com o George Cloney no papel dele… não dá para competir.

O presidente dá um longo gole na Tubaína.

— Sampaio, você precisa me tirar desses debates, taoquei?

Em desespero, Sampaio improvisa uma estratégia.

— Então presidente… uma alternativa seria fazer como no Brasil…

— Brasil? O que é Brasil? Ah! Aquele da floresta. Que que tem o Brasil?

Ah, pronto! Era só o que me faltava. Você manda cortar o sujeito
no debate e agora me diz que cortei demais!

— Lá o candidato que venceu as eleições levou uma facada e não pode participar dos debates.

— Você tá sugerindo que eu leve uma facada, Sampaio?

— Claro que não, presidente! Que é isso… mas o senhor poderia “ficar doente”, digamos… O presidente coça o queixo pensativo. Dá outro gole na Tubaína e pergunta:

— Mas que doença?

— Ora, presidente, Covi, claro.

O presidente pensa um pouco, então seu rosto se ilumina:

— Sampaião, você é um gênio! Essa ideia é ótima. Com covid, preciso ficar em quarentena e me livro dos debates!

Mas logo em seguida, o presidente desanima novamente.

— O que foi presidente?

— Sampaio, facada não tem jeito, a gente tem que ficar em repouso… mas o covid é diferente porque tem cura, poxa.

Sampaio e o presidente se entreolham por alguns segundos, e falam ao mesmo tempo:

— Maldita Cloroquina!

Nessa hora, acordei.

Até sonho tem limite.