O livro republicano dos inquilinos do Poder Executivo não registra em suas páginas um presidente tão boquirroto, falastrão, metido a John Wayne de um faroeste tupiniquim com script traçado por ele próprio. Jair Bolsonaro tornou-se um personagem pitoresco da nação.

Nisso, o Brasil virou um circo a céu aberto, com palco em Brasília, de onde o chefe da nação fala para sua plateia – uma claque eufórica – e esquece de quem pagou ingresso na eleição de 2018 e ficou do lado de fora esperando o show do crescimento e da democracia. Corre o risco de, no Palácio do Planalto, virar o Palhaço do Planalto.

No entanto Bolsonaro sabe o que faz, dos riscos que corre e das consequências dos seus atos. Ele tem dimensão de seu poder, e joga para a sua plateia visando o ganho eleitoral para sua reeleição. E só. Fez chegar aos ministros do STF que o problema é com Alexandre de Moraes, e não com o plenário. O porta-voz do recado foi o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que se encontrou recentemente com o ministro Nunes Marques, seu apadrinhado para a Corte.

O presidente perdeu o discurso anticorrupção para a candidatura à reeleição. Com os escândalos das “rachadinhas” salariais nos mandatos da família há décadas, e com as suspeitas de negociatas debaixo do seu nariz no Ministério da Saúde sobre a vacina contra o Covid-19, ele precisava de um novo alvo para se sustentar com o eleitor e minorar eventuais estragos políticos. Elegeu Moraes, que prende seus aliados que atacam e ameaçam os togados.

Bolsonaro já cravou para os mais próximos que a futura campanha será contra o que considera abusos do STF e do poder de seus ministros. A curto prazo, desvia o foco de problemas no seu Governo. E a médio prazo prepara o campo para o embate esperado com o presidenciável Lula da Silva (PT).

Aí vem o golpe eleitoral: na futura campanha, Bolsonaro vai lembrar todos os escândalos da Era PT, a corrupção na Petrobras, a Operação Lava Jato, a prisão de Lula. E vai culpar o STF por inocentar o adversário e enterrar a Lava Jato. O STF está contra o Brasil, a seu ver. Está tudo preparado.

Todavia, hoje, ao atacar o Poder Judiciário, e fazer seguidas ameaças veladas à independência do Poder Judiciário – como neste 7 de Setembro – ele se esquece de que as Forças Armadas são obedientes à Nação e à Constituição, e não às vontades político-ideológicas do chefe de Estado, embora seja o comandante maior.

O presidente da República faz um show, e só – mas é importante toda a plateia ficar atenta ao roteiro.