05/12/2019 - 9:47
Os presidentes do Mercosul se reúnem nesta quinta-feira em Bento Gonçalves em uma cúpula em que o presidente Jair Bolsonaro tentará fortalecer uma orientação a favor do livre mercado no bloco antes da posse do peronista Alberto Fernández como presidente da Argentina.
O encontro semestral do bloco, formado também por Paraguai e Uruguai, será marcado pela transição e a reorientação política na Argentina e no Uruguai, motivo pelo qual são esperados poucos resultados concretos.
Em cinco dias, o neoliberal Mauricio Macri, que contou com declarações de apoio de Bolsonaro nas eleições argentinas, passará a faixa presidencial a Fernández, com quem o presidente brasileiro mantém uma relação de animosidade. Os atritos geram uma preocupação relativa aos negócios e a eventuais consequências no processo de ratificação do acordo de livre comércio assinado neste ano com a União Europeia (UE).
No Uruguai, o presidente socialista Tabaré Vázquez será substituído em março pelo liberal Luis Lacalle Pou, vencedor das eleições de novembro, encerrando 15 anos de governos de esquerda.
Bolsonaro, que tem no presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, um aliado aproveitou na quarta-feira sua condição de anfitrião para advertir que a Argentina “perde muito mais” no caso de tensões com o Brasil, mas ressaltou que apostará no “pragmatismo” das relações bilaterais.
Mais tarde, na reunião de ministros das Relações Exteriores, o chanceler Ernesto Araújo afirmou que “acabou o Mercosul retórico e ineficiente”.
“O Brasil está pronto para continuar trabalhando com todos por um Mercosul à luz do Sol, não na caverna. Construir pontes com espírito construtivo, pragmático. Não queremos construir pontes com um passado recente e desastroso”, posicionou-se Araújo, em um recado velado a Fernández.
– “Retórica belicosa”
Bolsonaro não parabenizou Fernández por sua vitória nas urnas e não comparecerá à cerimônia de posse em 10 de dezembro, incomodado pela campanha do peronista em favor da libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O governo brasileiro chegou a ameaçar deixar o Mercosul, com medo que Fernández, herdeiro de uma economia em crise, adote políticas protecionistas.
O Mercosul enfrentará um de seus temas mais espinhosos: a redução da Tarifa Externa Comum (TEC), a elevada taxa – de 13% a 14%- sobre importações de produtos de fora do bloco.
Segundo analistas, o pragmatismo que Bolsonaro tem demostrado nas relações com Estados Unidos e China, seus dois principais parceiros comerciais que se enfrentam em uma guerra comercial, deverá prevalecer também no caso da Argentina, considerada a interdependência das duas economias.
Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina e Argentina o terceiro do Brasil, embora seja seu principal comprador de produtos industrializados.
“Esta retórica mais belicosa tenta posicionar o governo brasileiro na mesa de negociações para conseguir mais concessões do governo argentino”, disse à AFP Thomaz Favaro, analista do Control Risks.
“O governo de Brasil dará o benefício da dúvida ao novo governo argentino em relação à sua política comercial, antes de adotar qualquer atitude drástica”, acrescentou.
O anúncio do presidente americano, Donald Trump, de taxar as importações de aço e alumínio de Brasil e Argentina colocou nesta semana os dois países no mesmo barco, a contragosto do governo brasileiro, que busca uma posição de aliado estratégico de Washington.
Também estarão presentes na cúpula representantes de países que enfrentam violentas crises políticas e protestos sociais, entre eles a Bolívia, país que está em processo de adesão ao bloco, assim como Chile e Colômbia.