Bolsonaro mandou militares autorizarem golpistas em quartéis, afirma Cid

Em delação premiada, ex-ajudante de ordens apontou participação direta do ex-presidente da República em ações golpistas; Bolsonaro, militares e mais 32 suspeitos foram denunciados pela PGR

Tânia Rêgo/Agência Brasil
O ex-presidente Jair Bolsonaro Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O tenente-coronel Mauro Cid afirmou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) determinou que as Forças Armadas autorizassem os acampamentos golpistas em frente aos quartéis. A informação consta na delação premiada de Cid, divulgada nesta quarta-feira, 19.

Em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, no dia 21 de novembro de 2024, Mauro Cid relatou a preocupação do Exército com os acampamentos em frente aos quartéis. O militar citou que o então comandante do Exército, general Freire Gomes, tentava convencê-lo a evitar qualquer tentativa de ideia golpista do ex-presidente.

Em um dos episódios relatados, Freire Gomes pediu que Cid tentasse retirar o general Mário Fernandes da reunião entre Bolsonaro e a cúpula das Forças Armadas. O pedido não foi atendido.

Durante o depoimento, Cid confirmou que Bolsonaro determinou a liberação de golpistas em frente aos quartéis. Os acampamentos duraram cerca de três meses e culminaram nos ataques de 8 de janeiro, em Brasília.

“E o segundo é que ele fala dos caminhões, né, que ele estava preocupado, que o Exército não podia deixar, que era área militar, que não podia tirar caminhão, aquele negócio todo, que realmente foi a determinação do presidente que as Forças Armadas autorizassem que os manifestantes ficassem lá. Tanto que teve aquela nota dos comandantes de Força, das três Forças – Marinha, Exército, Aeronáutica – autorizando que os manifestantes ficassem lá”, afirmou.

Neste momento, Moraes questiona Cid: “Essa nota foi determinação do presidente?”.

“Sim, senhor, foi determinação dele”, respondeu o ex-ajudante de ordens.

Denúncia contra Bolsonaro

A delação é a principal peça que embasa a denúncia da participação do ex-presidente Jair Bolsonaro em uma tentativa de golpe de Estado para se manter no poder após a derrota nas eleições de 2022. De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro não admitia a derrota, especialmente para Lula.

Além de Bolsonaro, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou outras 33 pessoas no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado. Para Gonet, Jair Bolsonaro e seus ministros faziam parte do núcleo duro do intento golpista.