O presidente Bolsonaro esticou de forma tão desproporcional a corda da normalidade institucional e do legítimo processo eleitoral que passou a representar uma ameaça concreta à democracia e à realização das eleições em 2022. Dessa forma, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidido pelo ministro Luís Roberto Barroso, já começa a colocar no horizonte a possibilidade de afastar o mandatário da disputa pela sucessão no ano que vem. Um dos caminhos em análise seria considerá-lo inelegível. E motivos para isso são incontáveis, a começar pelos processos que ele responde no tribunal por abuso do poder econômico na eleição de 2018, além dos inquéritos pelos quais é investigado no STF por disseminar fake news, fazendo acusações sem provas à segurança das urnas eletrônicas.

Registro

Além das investigações a que é submetido no STF, Bolsonaro é ainda alvo de duas ações no TSE por desrespeitar o sistema eleitoral, o que pode lhe valer severas punições. Basta ter uma única condenação até agosto, prazo para o registro das candidaturas. Os ministros do tribunal podem vetar sua candidatura mediante pedido de qualquer partido.

Guilhotina

Essa possibilidade vai pairar sobre a cabeça do presidente nos próximos meses. Se ele insistir em levar adiante a obsessão do golpe, correrá o risco de ser barrado na corrida presidencial, dentro do estrito jogo democrático. O TSE e o STF já deixaram claro que a Justiça não tolerará o desrespeito à Constituição. Bolsonaro não está acima da lei.

CPI mira em sobrinho de Bolsonaro

Marcos Oliveira

Omar Aziz, presidente da CPI da Covid, pediu levantamentos sobre a eventual participação de Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, em negócios suspeitos para a compra de vacinas, com o objetivo de colocar o sobrinho do presidente no rol dos possíveis convocados para depor. O senador tem indícios de que o primo de Carluxo estaria envolvido no esquema de corrupção na aquisição de imunizantes.

Retrato falado

“A despeito de suas convicções políticas, não aceite agressões às instituições” (Crédito:Alexandre Rezende)

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, condenou os que agridem a democracia. Para ele, o País está “contaminado por um sentimento de raiva e de intolerância.” Ele orienta os brasileiros a não se deixarem convencer por quem afronta as instituições: “São elas que impedem totalitarismo”. O bispo pede paz. “Muitos, em nome de ideologias, dedicam-se a ofensas, chegando ao absurdo de defender o armamento da população.”

Contratações eleitoreiras

Bolsonaro perdeu o pudor e deixa claro que o dinheiro público será usado descaradamente no projeto da reeleição. O governo acaba de enviar ao Congresso o Orçamento para 2022 com a previsão de gastar R$ 5,3 bilhões para a contratação de 73.640 novos funcionários públicos. É o dobro do valor destinado este ano para a reposição dos cargos no governo. A estimativa é que somente no Palácio do Planalto serão criados 1.129 novos postos, que, obrigatoriamente, deverão ser ocupados por militares. Vale lembrar que, atualmente, já são 6.157 fardados com emprego no governo, mais do que o dobro dos que serviram no governo Temer (2.765). Desses, 2.643 estão em cargos comissionados e com salários milionários.

Gasto bilionário

Com a contratação dos novos funcionários, o governo aumentará a folha de pagamento dos servidores em mais de R$ 10 bilhões. Hoje, gasta R$ 332,3 bilhões com o funcionalismo e vai passar a dispor de R$ 342,7 bilhões com os encargos salariais em 2022. Nada como inchar a máquina pública em busca de votos.

Bicadas no ninho tucano

Ao se licenciar do Senado para tratamento de saúde, o senador José Serra abriu uma cisão no PSDB pela disputa de sua cadeira nas eleições do ano que vem. José Aníbal, o suplente que assumiu o posto, diz que é o candidato natural ao cargo, mas o presidente do PSDB de São Paulo, Fernando Alfredo, afirma que haverá prévias e ele já está inscrito.

Moreira Mariz

O fator Alckmin

Ocorre que alguns tucanos, como o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, pretendiam usar a vaga de Serra para negociar a permanência de Geraldo Alckmin no partido, oferecendo-lhe a candidatura ao Senado. Mas o ex-governador quer mesmo é ser candidato ao governo de São Paulo, o que está fora de cogitação: João Doria quer Rodrigo Garcia.

Furando o bloqueio

Charles Sholl

Cansado de esperar por vacinas sempre insuficientes do Ministério da Saúde, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, resolveu comprar diretamente do Instituto Butantan 500 mil doses da Coronavac, ao preço de R$ 26 milhões. Pagou menos de US$ 10 por unidade, sem superfaturamento e sem intermediários, coisa rara no comércio brasileiro de imunizantes.

Toma lá dá cá

Vinicius Poit, Deputado Federal do Novo-SP (Crédito:Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

O que acha da política econômica de Guedes?
No início, ela se mostrou boa, mas foi transformada em uma política populista. Um exemplo é a reforma do IR. Com a desculpa de corrigir a tabela e deixar mais pessoas isentas, aumentou impostos para quem gera emprego.

O que achou das ameaças feitas pelos bancos públicos à Febraban?
O Estado não deveria nem ser dono de banco. Defendemos a privatização do BB. Os bancos privados têm total liberdade para criticar ou não o Governo Federal.

Qual sua avaliação sobre a reforma eleitoral?
É uma armadilha feita às pressas, só pra poder valer já nas próximas eleições, sem um debate sério sobre as mudanças. Um verdadeiro absurdo. Discordamos profundamente do Distritão.

Rápidas

* Bolsonaro deu mais um exemplo de como torrar dinheiro público para sustentar suas alucinações golpistas. O desfile dos tanques em Brasília no último dia 10 de agosto custou R$ 3,7 milhões aos cofres da União, dos quais R$ 721 mil só para pagar o óleo diesel.

* Fux bem que tentou ajudar Bolsonaro a encontrar uma solução para o pagamento dos R$ 89 bilhões em precatórios, mas depois que o presidente deu novas declarações ameaçando ministros ele tirou o time de campo.

* Roberto Campos Neto (BC) diz que “os ruídos eleitorais”, associados à crise hídrica e às incertezas da política econômica, estão levando a dificuldades para a condução da política monetária: os juros vão continuar subindo.

* Os prefeitos ficaram “perplexos” com a reforma do Imposto de Renda aprovada na Câmara, que lhes tungou R$ 9,3 bilhões. Tentarão mudar o projeto no Senado: os senadores não desejam descontentá-los em ano eleitoral.