Bolsonaro inclui militares contra plano golpista no rol de testemunhas no STF

General Freire Gomes e Brigadeiro Baptista Júnior participaram da reunião em que o ex-presidente apresentou minuta do golpe; ex-comandante do Exército chegou a ameaçar o chefe do Planalto de prisão

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Ex-comandante do Exército, Freire Gomes (a esquerda) foi incluído no rol de testemunhas de defesa de Jair Bolsonaro Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) incluiu os dois ex-comandantes das Forças Armadas que foram contra o plano golpista no rol de testemunhas de defesa no inquérito do golpe de Estado. Na defesa prévia, entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira, 7, Bolsonaro colocou 13 nomes para testemunhar a seu favor. Entre eles estão o General Marco Antônio Freire Gomes (ex-comandante do Exército) e o Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior (ex-comandante da Aeronáutica).

Freire Gomes e Baptista Júnior participaram da reunião com Bolsonaro e o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos – também denunciado – no fim de 2022, no Palácio do Planalto. No encontro, de acordo com a Polícia Federal, o ex-presidente da República apresentou um plano golpista e pressionou os comandantes das Forças Armadas por apoio.

A PF aponta que os dois militares incluídos como testemunhas de Bolsonaro foram contrários ao plano apresentado pelo ex-chefe do Planalto. Freire Gomes, inclusive, teria ameaçado Jair Bolsonaro de prisão caso alguma ação golpista fosse tomada.

O próprio general apontou as reuniões em depoimento aos investigadores. A declaração foi corroborada por Baptista Júnior, que também chegou a prestar esclarecimentos à Polícia Federal.

Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), a falta de apoio dos militares foi determinante para evitar o avanço do plano golpista. A análise, incluída na denúncia contra os suspeitos, considera o depoimento de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que citou a preocupação da alta cúpula do Exército com o planejamento do golpe e a participação de militares no esquema.

Cid ainda afirmou que Freire Gomes evitou encontros com os generais Mário Fernandes (então número dois da Secretaria-Geral da Presidência) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa), ambos denunciados como participantes do núcleo duro a favor do golpe. Braga Netto, inclusive, passou a atacar os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica após a recusa de ambos em participar do plano de tomada do poder.

A IstoÉ entrou em contato com a defesa de Freire Gomes para saber se o militar participou ou não do depoimento como testemunha de defesa. Até o momento, não houve retorno. A reportagem ainda tenta localizar a defesa de Baptista Júnior.

Governador e senadores incluídos

Jair Bolsonaro ainda incluiu seus principais aliados e até seu afilhado político no rol de testemunhas de defesa. Entre os nomes estão o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e os senadores Ciro Nogueira (Progressistas-PI) e Rogério Marinho (PL-RN).

Tarcísio foi o principal afiliado político de Bolsonaro durante as eleições de 2022, quando foi eleito para comandar o Palácio dos Bandeirantes. Antes, o carioca foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro e deixou a pasta em março de 2022, antes do avanço da minuta do golpe.

Outro ex-ministro de Bolsonaro, Rogério Marinho, é um dos principais braços-direitos do ex-chefe do Planalto atualmente. Senador, Marinho é líder da oposição no Senado e tem atuado na articulação do PL da Anistia, que pode beneficiar o ex-presidente.

Jair Bolsonaro ainda colocou Gilson Machado, ex-ministro do Turismo, no papel de testemunhas. Machado, assim como Rogério Marinho, é um dos braços-direitos do ex-presidente atualmente.

Ambos seguiram Tarcísio em 2022 e deixaram o Planalto antes mesmo do avanço do plano golpista. Marinho foi eleito senador, enquanto Machado perdeu a disputa para Tereza Leitão (PT-PE).

Já Ciro Nogueira foi ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro e foi colocado como um dos principais aliados do ex-presidente no Congresso Nacional. Ele se manteve no Planalto até o fim do governo e foi relatado na delação de Mauro Cid como um dos membros do núcleo que defendia a facilidade da derrota para Lula nas eleições e o fortalecimento da oposição no Congresso Nacional.

Entre os 13 nomes ainda estão o ex-vice de Bolsonaro e atual senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), o general Júlio César de Arruda, que foi nomeado por Lula para comandar o Exército, mas deixou a carga um mês depois de assumir, além do advogado Amauri Feres Saad, apontado pela PF como o criador da minuta do golpe. Saad não está na lista de denunciados pela PGR.

Veja a lista completa de testemunhas

  1. Amauri Feres Saad – Advogado, apontado como criador da minuta do golpe.
  2. Coronel Wagner Oliveira da Silva – Ex-número 2 do Ministério da Defesa. Foi nomeado para atuar na comissão de fiscalização das urnas eletrônicas nas eleições de 2022.
  3. Renato de Lima França – Ex-subchefe de assuntos jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência da República.
  4. General Eduardo Pazuello – Deputado federal e ex-ministro da Saúde.
  5. Rogério Marinho – Senador da República e ex-ministro do Desenvolvimento Regional.
  6. General Hamilton Mourão – Senador da República e ex-vice-presidente da República.
  7. Ciro Nogueira – Senador da República e ex-ministro da Casa Civil.
  8. Tarcísio Gomes de Freitas – Governador do Estado de São Paulo.
  9. Gilson Machado – Ex-ministro do Turismo.
  10. General Marco Antônio Freire Gomes – Comandante do Exército durante o governo Bolsonaro.
  11. Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior – Comandante da Aeronáutica durante o governo Bolsonaro.
  12. General Júlio César de Arruda – Ex-comandante do Exército. Foi nomeado por Lula para assumir ainda em dezembro de 2022, mas foi demitido em janeiro de 2023, após não acatar um pedido do petista para a demissão de um militar bolsonarista.
  13. Jonathas Assunção Salvador Nery de Castro – Ex-secretário-executivo do Ministério da Casa Civil.