Após ser destruído por um incêndio em dezembro de 2015, o primeiro museu do mundo dedicado inteiramente a um idioma reabre as suas portas em São Paulo. A cerimônia da volta do espaço começou com a cantora Fafá de Belém interpretando de maneira sublime os hinos do Brasil e de Portugal. O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa acompanhou a cerimônia e, no entanto, não contou com a presença do presidente Brasileiro, que recusou o convite para celebrar a volta do museu.

Em seu lugar estavam os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer. Bolsonaro, pouco afeito aos livros e dado ao uso de palavras chulas, preferiu participar de uma motociata na cidade de Presidente Prudente, a cerca de 160 quilômetros da capital paulista.

João Doria, governador do estado de São Paulo, comentou que o convite fora feito tanto a Bolsonaro como aos ex-presidentes Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor de Mello e José Sarney. O último chegou a confirmar presença, mas ficou gripado dias antes do evento. Já Dilma e Lula mandaram cartas de agradecimento, enquanto Fernando Collor não enviou nenhuma resposta. A ausência do alto escalão do governo federal, entretanto, era gritante. Não enviaram ninguém.

O secretário especial da Cultura, Mário Frias, chegou a criar um decreto confuso proibindo que qualquer projeto que se utilize da Lei Rouanet seja inaugurado sem a autorização do governo federal. O secretário estadual da Cultura de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, disse que não recebeu nenhum documento oficial por parte do Governo, mas que, quando e se receber, “responderá com os fatos”.

O secretário afirmou, em tom irônico, que a Constituição Federal “ainda” está em vigor: “Um dos princípios basilares da nossa constituição é justamente o pacto federativo, ou seja, o respeito às instâncias que formam o país, os municípios, os estados e a União. A Constituição estabelece de maneira clara, límpida, os direitos, as obrigações, os limites que todo ente federativo tem. Aqui em São Paulo nós respeitamos a constituição e o pacto federativo”.

Com o museu pronto, por que a necessidade de espera? Bolsonaro ou Frias iriam proibir que o governador João Doria ou o prefeito de São Paulo estivessem no evento? Fariam uma live de inauguração?

Seria risível ver Bolsonaro elaborar um discurso respeitoso à língua e aos países que falam português, mas, de novo, ele poderia ter ido, se quisesse. Poderia ter feito o papel de mandatário que nunca fez, surpreender, mostrar que defende a educação e a cultura. Não o fez. Por opção.

O presidente de Portugal, que fez um discurso emocionado em relação ao idioma, foi perguntado como se sentia com a ausência do presidente do Brasil. Elegante e sorridente, disse usando um ditado popular de seu país: “Dança quem está na roda. Eu estou feliz de estar nessa roda e de estar nessa dança. Porque é uma dança que pensa no futuro, no futuro da língua portuguesa e no futuro de 260 milhões de pessoas. Isso, para mim, é o mais importante”.

Com essa fala, Marcelo Rebelo de Sousa deixou claro o que já não é novidade. Bolsonaro não se preocupa com a cultura nem com o futuro do País.