Dúvida até o último momento, o presidente compareceu ao debate da Band na noite de domingo com o objetivo de sair da paralisia nas pesquisas. Era preciso sair da bolha: convencer os pobres de que ele vai botar mais comida no prato e vencer resistência no eleitorado moderado que lhe deu a última eleição. Em especial, conquistar as mulheres, que é uma das fatias do eleitorado mais resistentes ao capitão. Mas sua performance foi desastrosa, ao fazer piadas machistas com uma jornalista quando perguntado sobre a vacinação. Pior: as duas candidatas o acusaram de misógino e ainda lembraram o episódio em que foi chamado de “tchutchuca”, o meme mais famoso da campanha até aqui.

Ao invés de se mostrar equilibrado e preparado, exibindo os resultados de sua gestão, o presidente reforçou a imagem de destemperado e alheio à realidade do País. Não conquistou votos onde precisava, frustrou os radicais que o apoiam incondicionalmente. Lula também teve um desempenho ruim, ainda que não tão catastrófico quanto o chefe do Executivo.

O petista apenas desconversou quando confrontado sobre os escândalos de corrupção, não mostrou a mesma agilidade das outras cinco campanhas de disputou e não conseguiu cravar um discurso convincente sobre a fome e a desigualdade. Teve bons momentos, quando acusou indiretamente Soraya Thronicke de elitista, mas claramente não dominou a cena como fez na entrevista em ambiente controlado do Jornal Nacional, no dia 25.
Ciro Gomes teve boa participação ao tentar se mostrar mais equilibrado, não repetiu seus escorregões retóricos e ainda conseguiu enquadrar o petista quando esse tentou acusá-lo de facilitar a vitória de Bolsonaro na última eleição. O pedetista lembrou que foi o próprio PT que favoreceu a gênese do bolsonarismo.

Apesar de ter ganhado o evento por sua participação clara e combativa, apontando os problemas tanto do presidente quanto de Lula, a senadora Simone Tebet não tem muito a comemorar. Deve ser limitado o impacto do confronto entre os eleitores. O evento serviu para a consolidação de expectativas e o posicionamento das campanhas. A polarização entre Lula e Bolsonaro ainda é o eixo da corrida eleitoral, e o limitado apoio a Tebet, vindo de partidos que já se esfacelaram ou estão em ruínas, dificilmente será suficiente para fazer sua candidatura ganhar massa crítica e superar o duelo de extremismos.