A escolha do novo partido do presidente ainda é uma novela que se arrasta sem fim. Desde o primeiro ano de mandato, Jair Bolsonaro governa sem legenda, e só se mexe agora porque a Constituição não permite a disputa de candidatos avulsos em 2022. Mais uma vez em sua carreira, ele procura um partido de aluguel, que lhe permita autonomia total e com o qual não precise compartilhar nenhum programa político. Ele já fez isso nove vezes.

Dessa vez, as negociações são mais complicadas. Para recebê-lo, o PL (implicado no escândalo do Mensalão) não queria dar carta branca. Concedeu à força, mas todos, inclusive o presidente, sabem que a chance de traição é enorme, especialmente pelos interesses regionais e por um provável namoro com Lula ou outro candidato bem posicionado nas pesquisas. O PP, campeão da Lava Jato e  maior sócio do Planalto, respira aliviado por não precisar abrigar o mandatário. Dando a senha para o divórcio, o presidente da Câmara e líder da legenda, Arthur Lira, declarou à “Folha de S.Paulo” que “a vida do presidente Bolsonaro é uma, a minha vida é outra”, referindo-se à campanha de reeleição de ambos. Outros partidos também não se animaram. E o Aliança pelo Brasil, um “puro sangue” alinhado com a ideologia bolsonarista, nem conseguiu atrair o número mínimo de inscritos.

A eleição do próximo ano será muito diferente do pleito de 2018. Ao invés de se vender como um anticandidato incendiário, Bolsonaro terá o ônus de se apresentar como governo. Precisa defender suas realizações, e elas simplesmente não existem – ou são negativas após três anos de desmanche da máquina do governo. Suas pautas corporativistas para militares, servidores ou caminhoneiros não seguram uma campanha presidencial. O discurso anticorrupção simplesmente não cola mais. E a vaga de algoz do PT também já estará ocupada por uma penca de candidatos de centro ou mesmo de esquerda, como Ciro Gomes.

Ao buscar sua nova legenda, Bolsonaro reconhece ainda que precisará dinheiro do Fundo Eleitoral, além de tempo de TV para a propaganda na reta final da campanha. Não poderá contar só com as redes sociais. E, ao contrário do que aconteceu em 2018, a brecha para fake news em massa e campanhas ilegais virtuais foi fechada pelo STF. Assim, o chefe do Executivo dependerá de comitês estaduais ou cacique partidários, raposas hábeis que não têm medo de responder ao mandatário com palavrões. Com impopularidade recorde e economia emborcando, Bolsonaro conta apenas com uma parcela cada vez estreita e radical de apoiadores, e dependerá da adesão dos seus novos aliados, famosos pela infidelidade.