Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro aproveitou entrevista para uma rádio de Pernambuco, nesta quinta-feira, para levantar suspeitas infundadas sobre a vacinação de crianças contra a Covid-19 e atacar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um dia após o Ministério da Saúde incluir a faixa etária de 5 a 11 anos na campanha nacional de imunização.

Sem ser interrompido pelo apresentador, Bolsonaro afirmou que não conhece crianças que morreram de Covid-19, apesar de dados das secretarias estaduais de Saúde mostram que 301 crianças entre 5 e 11 anos morreram da doença no país até o início de dezembro de 2021. O presidente disse que há interesses por trás na aprovação das vacinas pediátricas.

“Você vai vacinar teu filho contra algo que o jovem por si só a possibilidade de morrer é quase zero? O que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por trás disso? Qual é o interesse das pessoas taradas por vacina? É pela sua vida? Pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupados com outras doenças, e não estão. Quando se trata de criança, não se deixe levar por propaganda”, disse.

Bolsonaro considerou lamentável a decisão da Anvisa de autorizar a vacina e repetiu que sua filha Laura, de 11 anos, não será vacinada.

O Ministério da Saúde divulgou na quarta-feira o cronograma de chegada das vacinas da Pfizer para a faixa etária de 5 a 11 anos, 20 dias depois de a Anvisa ter aprovado o uso do imunizante, que tem uma dosagem menor que a dos adultos.

Dada a resistência do presidente, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criou uma consulta pública via internet e uma audiência pública para debater as diretrizes da vacinação infantil, o que atrasou ainda mais o início do processo, que deve começar somente na segunda quinzena de janeiro.

Por pressão de Bolsonaro, o ministério queria impor a necessidade de prescrição médica e autorização por escrito dos pais para a aplicação da vacina nas crianças. Com o resultado da consulta pública, em que a vasta maioria das pessoas foi contrária, e da audiência, onde especialistas e secretários de Saúde deixaram claro que a medida era inviável, o ministério voltou atrás.

Ainda assim, durante a entrevista onde foram anunciadas as medidas, a secretária de combate à Covid-19, Rosane Melo, ajudou a semear dúvidas ao dizer que seria “imprescindível” que os pais consultassem um médico antes da vacinação. A medida não é necessária, segundo especialistas, nem será obrigatória.

Em sua fala na rádio, Bolsonaro diz para a população não se deixar levar por “propaganda” –que na verdade não existe no caso de vacinas– e insinua que podem existir efeitos colaterais desconhecidos na vacinação infantil.

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