O governo Bolsonaro acaba de fazer sua mais escancarada confissão de que pode, sim, recorrer a um golpe militar.
Está numa nota assinada pelo próprio presidente, pelo vice Hamilton Mourão e, vejam só, pelo ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo.
Ela responde à decisão liminar proferida ontem pelo ministro do STF Luiz Fux, declarando que as Forças Armadas não são um poder moderador, ou seja, não estão autorizadas pela Constituição a intervir no país sob o pretexto de resguardar a harmonia entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.
A nota é um primor de cinismo.
Ao mesmo tempo em que elogia a decisão de Fux por “reconhecer o papel e a história das Forças Armadas sempre ao lado da Democracia e da Liberdade”, também afirma que os militares “não aceitam tentativas de tomada de poder por outro Poder da República, ao arrepio das leis ou por conta de julgamentos políticos”.
Tradução: as Forças Armadas não vão ficar quietas no seu canto se houver cassação da chapa Bolsonaro-Mourão no Superior Tribunal Eleitoral (TSE) ou abertura de impeachment. Ameaça maior do que essa, só mesmo feita com fuzil.
Repita-se: a nota leva a assinatura do ministro da Defesa.
Mais que impeachment, o que preocupa o bolsonarismo neste momento é o julgamento que começa a ganhar velocidade no TSE. Ele vai avaliar, entre outras alegações, se a campanha de Bolsonaro usou caixa dois para impulsionar mensagens nas redes sociais em 2018.
Se isso ficar provado pode haver, sim, cassação. Seria aplicação das leis, mas o Planalto já vai tratando de desqualificar uma sentença nesse sentido como “julgamento político”, ou seja, maracutaia antidemocrática que precisa ser abortada pelos militares.
É isso: o governo zomba de uma sentença do STF e insinua que não vai acatar decisão que lhe seja contrária no TSE.
No imaginário bolsonarista, o Judiciário já está vendado, diante do batalhão de fuzilamento.