A reforma bilionária que tirou dinheiro dos governadores para abaixar artificialmente o preço dos combustíveis nem entrou em vigor e já perdeu qualquer efeito prático. Com o aumento anunciado na última sexta-feira do diesel e da gasolina, a Petrobras na prática eliminou o bônus eleitoral que Bolsonaro sonhava conquistar a três meses das eleições. Ao contrário, a companhia expôs o fracasso do governo, que conseguiu aumentar a pobreza e trazer de volta a inflação de dois dígitos.

Diante do aumento, o presidente reagiu mais uma vez com grande irritação, uma reação que será cada vez mais comum daqui para a frente.  E com total irracionalidade, já que está propondo uma CPI para investigar uma empresa que ele mesmo controla há mais de três anos. Será a primeira vez na história política que um governo abre uma investigação contra si mesmo. Mas esse comportamento errático não é novidade. Caracteriza a gestão desde o primeiro dia.

Em nenhum setor o atual governo mostrou preparo ou qualquer plano estratégico para o País. Além de não privatizar (criou mais duas estatais), a atual gestão espetou uma conta bilionária para o consumidor na capitalização da Eletrobras, que seria a única vitrine possível no enxugamento da máquina. Essa privatização marota não diminuiu a dívida pública e criou uma série de distorções bilionárias que serão embutidas nas contas de luz nos próximos anos.

A energia no País será mais cara e vai subsidiar empresários e políticos do Centrão. Isso vai piorar a produtividade do País, ao invés de melhorar. Da mesma forma, a “revolução do gás barato” prometida por Paulo Guedes na área petrolífera transformou-se em uma alta dos preços do botijão que afeta os mais pobres. A venda da distribuidora da estatal não diminuiu a concentração do mercado e o desinvestimento das refinarias empacou.

A Petrobras é a joia da coroa da falta de gestão. Bolsonaro já demitiu três presidentes que ele mesmo nomeou (o último com menos de dois meses no cargo). Tentou mexer na política de preços da petroleira na marra, ignorando a lei das estatais aprovada na gestão Temer que foi criada para impedir o uso eleitoreiro e irresponsável das empresas públicas. E fez isso ignorando que parte do aumento dos combustíveis se deve à alta do dólar, que saiu do controle em seu governo diante da instabilidade institucional e do risco fiscal que ele mesmo estimula diariamente.

Agora, a estatal virou o bode expiatório para todas as mazelas do governo. “A Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos”, disse o mandatário. Foi um ato falho. É o próprio presidente que instila o caos diariamente, como método do governo. Nos últimos três anos e meio no Planalto (assim como nos 27 anos em que esteve no Congresso), ele sempre investiu na balbúrdia, como quando atiçou os caminhoneiros a paralisarem o País em  2018. Nunca propôs soluções para problemas complexos, jamais se responsabilizou pelos erros e sempre apostou no ódio e na própria vitimização.

Age assim agora com a Petrobras. Depois de “ameaçar” privatizá-la na bacia das almas, sabendo que isso seria impossível, tenta agora criminalizar os gestores que ele mesmo colocou na direção. É apenas cortina de fumaça para tentar tirar do seu colo a  crise dos combustíveis e da própria explosão inflacionária, procurando desorganizar a maior companhia do Brasil. Os sócios do presidente que fazem parte do Centrão também atacam a empresa, agindo em sincronia. Mas, ao contrário do chefe do Executivo, agem com método e planejamento.

Ao investir no fim da profissionalização da gestão, como propõe a Medida Provisória em estudo para derrubar na prática a lei das estatais, o grupo fisiológico abre espaço para se beneficiar também na petroleira. Essa é a nova mina de ouro. Enquanto o orçamento secreto no Congresso rende apenas R$ 30 bilhões por ano, a receita da petroleira ultrapassa R$ 420 bilhões. Há um mar de negócios a serem explorados, como o Petrolão já mostrou. O Centrão pode ser criticado por tudo, menos por ter falta de visão.