O governo Bolsonaro foi para a UTI e crescem os sinais de perda de sustentação política. O presidente também não tem discurso para se contrapor à avalanche de denúncias de corrupção descortinados pela CPI da Covid. A comissão começou mirando o negacionismo e a irresponsabilidade. Agora, mudou seu foco. Passou a expor esquemas bilionários de desvio que correm soltos na Saúde, sob a benção do presidente. A comissão está muito parecida com a CPI dos Correios, que puxou os fios do Mensalão nos anos 2000 e mudou a percepção dos governos petistas. Agora, a infâmia é ainda maior. Enquanto dificulta as medidas da ciência para salvar vidas, o governo Bolsonaro transformou as verbas emergenciais em balcão de negócios para quadrilhas.

É uma crise indefensável para o presidente, que tem mantido um silêncio ensurdecedor desde que o deputado Luis Miranda revelou ter contado a ele sobre o esquema Covaxin e ter ouvido: “isso é coisa do Ricardo Barros“. Barros, não custa lembrar, é o líder do governo na Câmara. Primeiro, Bolsonaro mandou o secretário-geral Onyx Lorenzoni ameaçar as testemunhas e tentou transformar a PF e a CGU em órgãos de intimidação aos irmãos Miranda. Depois, mudou a ladainha do “até hoje não houve nenhum escândalo nesse governo”: agora, diz que não é possível controlar o que acontece em todos os ministérios. Errado. A sua confissão ao deputado Luis Miranda mostra que o presidente conhece perfeitamente as tramoias que estão em curso. Não se trata apenas da rachadinha do filho senador, que tenta abafar, mas das negociatas operadas pelo Centrão, grupo fisiológico que foi comprado a peso de ouro para Bolsonaro controlar o Congresso e impedir o impeachment – o pagamento ocorreu com o dinheiro do contribuinte, é claro.

Paralisado e sem poder revidar, Bolsonaro age de forma atabalhoada. A tropa de choque no Senado está perdida, tentando abafar o escândalo aos berros e na base da ameaça. O presidente tenta ensaiar um discurso de integridade. Na madrugada da terça-feira, 29, postou um vídeo em que elogia a honestidade do seu ministério e a “capacidade” dele. Foi mais uma impostura. Deixou de citar Ricardo Salles, Eduardo Pazuello e todas as outras crias do bolsonarismo que agora lutam para escapar da cadeia. Um dia antes, o “cérebro” do gabinete do ódio, Carlos Bolsonaro, apelou para uma foto da barriga do pai após sofrer o atentado político em 2018. Tentou vender nas redes sociais mais uma vez a imagem de seu pai como um herói e vítima. Agora, não cola mais. São reações de desespero, para um governo que se decompõe a olhos vistos.


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