Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro elevou o tom contra o senador Renan Calheiros (MDB-AL), a quem chamou de “picareta” e “vagabundo” durante viagem a Alagoas, Estado natal do Senador.

Em um discurso durante evento de entrega de casas, com uma plateia favorável, Bolsonaro afirmou que tem um “vagabundo inquirindo as pessoas” na CPI da Covid, e que aquilo que está acontecendo na comissão é “um crime”.

“Sempre tem alguém picareta, vagabundo, querendo atrapalhar o trabalho daqueles que produzem. Se Jesus teve um traidor, temos um vagabundo inquirindo pessoas de bem no nosso país. É um crime o que vem acontecendo com essa CPI”, disse Bolsonaro. “O recado que eu tenho para esse indivíduo: se quer fazer um show tentando me derrubar, não fará. Somente Deus me retira daquela cadeira.”

O presidente não citou o nome do senador, mas na quarta-feira, enquanto o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten estava sendo inquirido na CPI, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente e que não é membro da comissão, foi à sala da CPI e chamou Renan de “vagabundo” ao criticar a ameaça do senador de mandar prender Wajngarten por mentir ao colegiado.

Mais tarde, Bolsonaro publicou em suas redes sociais o vídeo de Flávio e lembrou que Renan é investigado em seis inquéritos.

Durante seu discurso e de seus ministros, a claque que assistia aos discursos, por diversas vezes, gritou “Renan vagabundo”, enquanto o presidente sorria.

Em Brasília, o relator da CPI comentou as provocações do presidente.

“Eu quero dizer às famílias dessas vítimas, aos mais de 15 milhões de sequelados da Covid no Brasil que, haja o que houver, intimidação todos os dias, não haverá problema. Hoje mesmo o presidente da República foi a Alagoas inaugurar obras estaduais –não é?–, numa evidente provocação a esta Comissão Parlamentar de Inquérito. A resposta a essas ofensas é aprofundar a investigação”, disse Renan.

Mais tarde, o senador voltou a comentar que Bolsonaro foi a Alagoas inaugurar obras já inauguradas –no caso, um viaduto em Maceió que já havia sido inaugurado pelo governador do Estado, Renan Filho (MDB), filho do senador, em dezembro de 2020– e provocá-lo. A fala de Renan foi respondida pela tropa de choque no governo, especialmente Ciro Nogueira (PP-PI), e levou a uma suspensão temporária da sessão.

 

(Rportagem adicional de Maria Carolina Marcello; Edição de Alexandre Caverni)

tagreuters.com2021binary_LYNXMPEH4C0T0-BASEIMAGE