É preciso dar o braço a torcer: o presidente Jair Bolsonaro toma medidas e anuncia decisões com uma consistência impressionante. É, provavelmente, o único chefe do Executivo em todo o mundo que consegue estar errado em absolutamente 100% das vezes. Infelizmente, para o povo brasileiro, ele é de uma coerência extremamente radical: se um tema permite duas visões antagônicas, pode ter certeza de que ele estará sempre do lado errado.

Seria possível citar inúmeros casos em que esse conceito se aplica. Sua fase mais irracional, se é que dá para “escolher” uma entre tantas, ocorreu durante a pandemia, quando ele se posicionou em diversos debates, sempre contra a ciência e a favor do seu bando de aliados transloucados – entre cloroquina e vacina, claro que ele optou pelo que matava mais gente. Máscara, distanciamento social, testagem… se um cientista que estudou a vida inteira sobre o assunto recomendava uma coisa, o presidente, que mal sabe ler uma bula de remédio, garantia que era ele quem tinha razão.

Se dados do próprio governo comprovam que o meio ambiente está sendo devastado a toque de caixa, ele toma partido de quem? Dos ambientalistas, que querem preservar a natureza? Claro que não: sempre do lado dos grileiros, dos garimpeiros ilegais. Se estamos com problemas com fertilizantes – ué, o incompetente do Bolsonaro não viajou para a Rússia justamente para cuidar disso? –, o presidente não planeja buscar outros fornecedores internacionais ou investir na retomada da produção nacional. Ele quer atacar as terras indígenas para explorar o potássio na floresta, em lugares destinados à preservação. Dá para ter uma visão de mundo mais errada que essa?

Se todos os relatórios mostram que um número maior de armas em circulação aumenta a criminalidade e a violência, o que Bolsonaro faz? Aumenta o número de armas, claro. E ainda flexibiliza as leis para “caçadores e colecionadores”, eufemismos grotescos para as milícias que o apoiam. Com um agravante: seu governo luta com todas as forças para reduzir a possibilidade de identificação das munições vendidas. Por quê? A quem interessa aumentar o número de armas frias no mercado negro? Pois é.

O caso mais recente de sua “presidência antagônica” é a posição de parceria em meio ao conflito mais perigoso na história da humanidade. Ele se diz “solidário” com o presidente que invade um país ao custo da vida de milhares de civis.

Mesmo na Segunda Guerra, a possibilidade de um colapso do planeta era praticamente impensável. Hoje, não. O ditador da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou o Ocidente com armas nucleares – e Bolsonaro está do lado de quem? De Biden, que, mal ou bem, tenta unir o mundo sob a legislação internacional? Ou de Putin, que invade um país soberano? De Putin, claro. De Biden, que venceu indiscutivelmente as eleições americanas? Ou de Putin, que frauda descaradamente as eleições em seu país? De Putin, claro. Dos Estados Unidos e Europa? Ou de ditaduras como Venezuela e Síria? Das democracias do Ocidente? Ou de um agressor que quer apenas fazer valer sua estratégia geopolítica? A resposta é simples: se existe um lado do bem, Bolsonaro está contra.