“Estamos vivendo um dos momentos mais delicados de nosso paupérrima história política.” A frase anterior é do escritor e historiador Leandro Karnal e foi dita em live de Istoé na tarde da terça-feira (9). Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Karnal foi o personagem entrevistado pelo jornalista Antonio Carlos Prado.

Entre os assuntos, o pensador falou conversa sobre ética em tempos de Covid-19 e no pós-pandemia de coronavírus – “ética melhora as pessoas”. Gaúcho de São Leopoldo, ele comentou sobre as questões raciais – “o racismo é um câncer antigo na sociedade -, e criticou duramente o governo Bolsonaro e também os políticos brasileiros – “a crise revela heróis e canalhas. Faltam lideranças e, acima de tudo, estadistas que pensem o futuro.”

Ao se referir especificamente ao presidente, disse: “Bolsonaro é um imbecil”.

Com cerca de 2,5 milhões de seguidores no Instagram, Leandro Karnal é um dos mais importantes e brilhantes intelectuais brasileiros na contemporaneidade. Historiador com doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Karnal refletiu sobre o período que vivemos.

“Às vezes, fico imaginando de forma bizarra, que existe um projeto anarquista de montar a inutilidade do Estado. Estamos sem vários ministros e, entre esses, existem muitos que estão mais preocupados com a polêmica do que com a área pela qual respondem. O debate brasileiro é um dos mais pobres de toda a nossa paupérrima história. Estamos no pior momento de argumentação”, criticou o historiador.

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Karnal entende que “o político brasileiro é aquele que pensa em três coisas: terminar seu mandato, reeleger-se e eleger um sucessor depois disso e uma quarta coisa que foi sendo acrescentada nos últimos anos que é ficar fora da cadeia. É um momento muito perigoso. Vivemos uma tríplice crise: saúde, econômica e política”, ressaltou.

Usando de metáforas do futebol, o historiador diz que estamos diante de uma partida e o jogo, na verdade, não é só sem a bola, é sem regra.

“O principal é atacar a torcida adversária e não pensar nem no futebol nem nos torcedores e nem no jogo. Tá faltando juiz, tá faltando tudo. O que temos é uma confusão e que cada um avanço de acordo com a sua vontade, muita canelada”, diz.

“Toda violência é terrível, mas violência o desprezo pela vida humana no momento de epidemia é medonho.”

Aos 57 anos, autor de diversos livros, alguns constam nas listas dos mais vendidos do Brasil, como “Felicidade: Modo de usar”, escrito em parceria com os intelectuais Mário Sergio Cortella e Luiz Felipe Pondé, Karnal acredita que “mesmo o país estando longe do ideal”, vamos sair melhor dessa pandemia.

“Nossa sensibilidade mudou. A crise, segundo ele, revela quem somos. A angústia que nós vivemos neste momento, não dá, mesmo que você esteja isolado e bem em casa, para supor que isto seja suficiente para sua felicidade. Porque tem um país que está de luto e em uma sociedade que está ainda sangrando. Quando o imbecil pensa no seu poder e não na saúde do povo o resultado são mortes em série com um volume enorme”.

Sem fugir de qualquer tema na live, Karnal afirma que o racismo é um câncer antigo na humanidade e entende que estamos melhor que estávamos há décadas quando se queimavam negros publicamente para a população branca contemplar.

Defensor intransigente da política de cotas raciais, para ele, “existe o racismo, mas hoje ele é capaz de provocar reação moral e isso é muito bom, apesar ainda estarmos longe de um ideal . Para o pensador, o exercício dos conhecimentos, da educação nos ajuda a conviver com os monstros que surgem e apareçam fora do controle.

“Se você estiver doente, não ouça políticos. Ouça médicos e outros especialistas. O melhor lugar para você se informar não é o seu grupo de WhatsApp do churrasco nem do futebol nem o seu grupo de WhatsApp da empresa”, ponderou.

“O medo faz parte desse momento. Alguém que está sem medo é uma pessoa desequilibrada. Não escute gente aloprada e desequilibrada. Aproveite esse momento para fazer o máximo possível de conhecimento estratégico para o pós epidemia. Evite o negacionismo e o alarmismo”, alertou Karnal.

“O conhecimento filosófico não é uma torre de marfim mas é um instrumento para ler o real e o real é absolutamente humano”, completou.



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