Os ex-presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump são unha e carne, almas gêmeas ou farinha do mesmo saco. A semelhança entre os dois é tamanha que qualquer uma dessas expressões são verdadeiras. Ambos governaram as maiores nações do mundo (Brasil com 220 milhões de habitantes e a oitava economia e os EUA com 300 milhões de habitantes e a primeira economia mundial), mas também foram os dois últimos presidentes dessas potências internacionais a deixarem um legado de malfeitos, fakes news, discursos de ódio, invasão aos Congressos de seus países e desvios de recursos de campanha. Os dois destruíram a imagens de suas nações. E, agora, serão indiciados pela polícia e Justiça locais, exatamente por crimes que cometeram no mandato ou fora dele. Os dois podem ficar inelegíveis e, também, correm o risco de irem para a cadeia por causa das falcatruas que cometeram.

Nesta terça-feira, 4, foi o dia de Trump ter ido se entregar à Justiça dos EUA por causa do suborno a uma prostitua, a quem pagou US$ 130 mil (R$ 670 mil) para que escondesse um caso sexual que tiveram no provador de um shoppping em Nova York, em 2006. A propina foi paga, com dinheiro da campanha de 2016, quando se elegeu, para ela não abrir o bico sobre o programinha que poderia ter lhe dado dor de cabeça na campanha. Mas, como a sociedade americana é machista e isso pouco importa. Não deve ser condenado por causa disso. Porém, só o fato de ter ido ontem “tocar piano” (ser indiciado e colocado as digitais no processo, além de fazer fotos como réu) já foram suficientes para causar um escândalo que pode afetar sua eleição na disputa do ano que vem, quando será candidato novamente a presidente dos EUA, com chances até de ganhar. Mas tem dezenas de outros processos, que podem lhe tirar da disputa. Ou não.

Bolsonaro, por sua vez, é devoto de Trump, O brasileiro já disse, no começo do mandato, que amava o americano, expressando num sofrível inglês, I Love You, carinho ao qual Donald nem deu bola, fazendo não ter entendido a juras de amor do cucaracho brasileiro. Para não ficar por baixo, o ex-capitão comparecerá nesta quarta-feira, às 14h30, na sede da Polícia Federal, em Brasília, para ser ouvido no caso do desvio das joias que o governo da Arábia Saudita deu ao governo brasileiro, que Bolsonaro desviou para si. Ele vai tentar explicar por que resolveu embolsar os brilhantes de R$ 16,5 milhões, que teoricamente seriam para a Michelle, embora tenham ficado retidas no Aeroporto de Cumbica, e por que pegou outras preciosidades que eram da União e que ele roubou. Tem tanta prova no inquérito de que ele cometeu crime de peculato (que dá cadeia brava), corrupção e tantos outros, que ele deve sair da PF hoje à tarde indiciado por delinquências que podem levá-lo para a cadeia mais cedo do que ele imaginava antes de ter fugido do Brasil em dezembro para não dar posse a Lula.

Não bastasse isso, o ex-mandatárioo deve também ficar inelegível em processo no TSE que será julgado depois da Páscoa. Ele responde por ataques ao sistema eleitoral. Neste caso, deverá ser condenado por ter atacado as urnas para mais de 50 embaixadores de vários países reunidos em Brasília. Há, porém, dezenas de outros processos na Justiça Eleitoral, onde os juízes dos inquéritos, como Benedito Gonçalves, apontam uma série de procedimentos criminosos, que devem levar o ex-presidente a ficar sem condições de disputar as próximas eleições, quer seja em 2024 (municipais) ou em 2026 (para presidente, deputado ou senador). Até no PL, partido ao qual pertence, já o dão como carta fora do baralho. Falam até na possibilidade de Michelle ser a candidata.

Ou, como disse Ciro Nogueira, presidente do PP, e aliado dos bolsonaristas, os candidatos a presidente da direita em 2026 podem ser os governadores Tarcísio de Freitas (SP) ou Romeu Zema (MG), com a ex-primeira-dama de vice. Pode ser? Pode. Mas, certamente, Bolsonaro, que tanto mal fez ao Brasil, deverá ficar de fora, fazendo suas criticáveis motociatas ou nada fazendo, para preencher o vazio de liderança na oposição a Lula. Vai manter o mesmo projeto que desenvolveu nos três meses que ficou em Miami: nada de útil. Ou então, como agora, em que passa os dias dormindo na mansão paga pelo PL, que ainda lhe dá outros R$ 60 mil por mês para vender o peixe da extrema direita. Para esse grupo, ele ainda seria um mito, mas já bastante diminuto. Na verdade, ele é um mito de pés de barro, desmorando. Bolsonaro e Trump vivem seus ocasos.