Bolsonaro e Rosalía: o pop e a política se tornaram inseparáveis?

Montagem ISTOÉ: Reprodução/TV Globo / Reprodução/Instagram
Foto: Montagem ISTOÉ: Reprodução/TV Globo / Reprodução/Instagram

A cantora espanhola Rosalía pode até ser desconhecida dos mais velhos, mas em sua turnê pela América Latina, ela arrasta uma multidão de jovens politizados, mesmo que seu objetivo não tenha nenhuma relação com as eleições nacionais dos países que visita. Rosalía se apresentou em São Paulo no mesmo horário em que o presidente Jair Bolsonaro concedia uma entrevista repleta de inverdades ao JN, o telejornal mais popular do País. Vencedora de oito prêmios Grammy, a catalã não incentivou gritos políticos, mas as oito mil pessoas presentes aproveitaram o sentimento de comunhão para gritar palavras contra o atual mandatário ou a favor do candidato atualmente à frente das pesquisas eleitorais.

No evento, influenciadores, cantores e atrizes como Bruna Marquezine, Sasha Meneghel e Juliette publicaram em suas redes sociais o sucesso da artista que se impõe pelo direito de ser quem se é e amar seja quem for. Talentosa, Rosalía atrai elogios da crítica especializada por sua potência vocal e sua habilidade em dominar a plateia com coreografias bem orquestradas usando um pequeno vestido vermelho – uma espécie de marca registrada.

Já quem estava alheio ao acontecimento musical, acompanhou o presidente com gritos das janelas de suas casas, com panelaços e memes de humor compartilhados à exaustão pela internet. Ambos os eventos – a entrevista do presidente e o show de Rosalía – deixam claro que os jovens, cada vez menos religiosos e cada vez mais abertos a aceitar as diferenças, não têm nada a ver com o presidente atual e seus planos de governo. Os jovens, unidos, parecem ter a força que sempre tiveram ao longo da história: a de trazer a alegria e a mudança.

Uma plateia que enfrentou temperaturas baixas para cantar e dançar com roupas coloridas, cheias de brilho e portando as cores do arco-íris LGBTQIA+ mostrou que não estava alheia aos acontecimentos do mundo. Uma internauta chegou a escrever no Twitter que “jamais perderia um dos dias mais importantes da campanha eleitoral para ver uma diva pop”, mas dentro do evento, entre uma música de sucesso e outra, havia a dúvida se a cantora puxaria o grito de guerra de algum candidato. Entre o público, uns perguntavam aos outros em quem votariam e até se não haviam perdido o prazo para pedir o “voto em trânsito”.

Rosalía chegou a se enrolar em uma bandeira do Brasil e disse que voltaria se “Deus quisesse” ao país e foi aplaudida por todos. Será que as cores nacionais, ainda mais com a proximidade da Copa do Mundo, voltarão a ser usadas sem que representem as ideias da extrema direita? Toda vez que arriscava palavras em português, o público ia ao delírio. Quando a cantora cantarolou um pequeno trecho de “Águas de março” ou ensaiou o já tradicional “quadradinho”, passo das batidas brasileiras, os presentes mostraram orgulho da cultura nacional, ainda mais quando valorizada por ninguém menos que a artista internacional do momento. A noite desta segunda-feira, 22, foi diferente para muitos, enquanto de um lado havia um político contando as mentiras de sempre, de outro existia a força de uma juventude cada vez mais plural, colorida, cheia de vida e com vontade de fazer a diferença, seja no palco ou nas urnas.