Em entrevista à GloboNews nesta segunda-feira (24), o senador e relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é “reincidente” e que “produz as mesmas provas todos os dias” de que seu governo defende a proliferação do coronavírus, aumentando o número de mortes por Covid-19 no país.

“O presidente da República é reincidente. Diferentemente do que acontece em todo o mundo, ele aqui reproduz as mesmas coisas, produz as mesmas provas todos os dias. Esse cortejo da morte que nós verificamos no último final de semana no Rio de Janeiro é um horror. É um horror um presidente da República que defende, em função de uma tese que é essa imunização natural, a proliferação do vírus e que, por isso, não é recomendável fazer isolamento social, fazer lockdown, usar máscara, é preciso deixar que o vírus trafegue com mais facilidade pra que, num curto espaço de tempo, contamine um contingente maior. Isso é uma coisa macabra, é um horror”, disse Renan.

O relator da CPI da Covid no Senado ainda reforçou que a não utilização de máscara por Bolsonaro no Brasil é deliberada, que nada tem a ver com “mera ignorância” e que isso fica comprovado pela viagem que o presidente fez ao Equador no fim de semana, pois lá fez uso da máscara para seguir o protocolo exigido no país.

“O presidente atravessa a cidade facilitando a contaminação do vírus, colaborando com o vírus. Depois pega um avião, vai ao Equador e coloca uma máscara, porque tem que seguir o protocolo do Equador, o que piora ainda mais a situação dele, porque demonstra que ele não está fazendo isso por mera ignorância. É mais grave. Essas coisas precisam estancar, do ponto de vista do presidente, dos seus seguidores, do atual ministro da Saúde [Marcelo Queiroga], que teve uma participação pífia também no depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito e do ex-ministro Pazuello”, disse o senador.

Renan reforçou que o objetivo da CPI da Covid é descobrir se houve crimes sanitários e contra a vida no país. Se está em curso um genocídio no Brasil.

“Nós não estamos investigando a instituição militar. Eu disse em todo momento: ‘Nós não vamos investigar pessoas nem instituições, nós vamos conferir os fatos. E responder com isso se houve crime sanitário no Brasil e se houve crime contra a vida’. Nós estamos investigando se houve um genocídio entre nós. E muitas daquelas vidas que se foram poderiam ter sido evitadas”, disse o relator.

Renan também afirmou que os requerimentos para um possível novo depoimento do ex-ministro da Saúde e general da ativa Eduardo Pazuello na CPI devem ser discutidos na quarta-feira (26), principalmente por conta das mentiras que Pazuello contou à comissão na semana passada e da sua participação em um ato público junto do presidente Bolsonaro que causou aglomeração no Rio de Janeiro, onde os dois estavam sem máscaras, no fim de semana.

“É muito importante a convocação do ex-ministro Pazuello, que mentiu bastante na Comissão Parlamentar de Inquérito. Eu mesmo levantei 14 mentiras num curto espaço de tempo. E mentiu solenemente no Rio de Janeiro, no último final de semana, ao participar daquele cortejo da morte que objetivava garantir a proliferação do vírus na defesa da tese do que sempre compreenderam, contra as vacinas e em favor da chamada imunização de rebanho. Para estancar essa delinquência do ex-ministro, é fundamental, pedagógico, trazê-lo novamente à CPI”, diz Renan.

O senador ainda elencou algumas das mentiras contadas por Pazuello em seu depoimento na CPI: “O ex-ministro Pazuello negou os fatos que são públicos. Disse que não recebia ordens de ninguém, quando a sociedade já testemunhou em várias oportunidades o contrário. E mentiu sobre variados aspectos da investigação. A sua presença no Rio [no último fim de semana] desvenda uma outra mentira, porque ele falou e repetiu em algumas oportunidades em seu depoimento que defendia o isolamento, que defendia o uso de máscara. Eles conseguiram transformar o Brasil no cemitério do mundo”, finaliza o relator da CPI da Covid.

A CPI da Covid no Senado deve ouvir nesta terça-feira (25) o depoimento da secretária de gestão do trabalho no Saúde do Ministério da Saúde, a médica Mayra Pinheiro, conhecida como ‘Capitã Cloroquina’.