No início de 2020, antes de a pandemia de coronavírus atingir o Brasil com a força de uma gripezinha, a economia patinava e rumores davam conta de que a admiração do presidente por seu super ministro havia acabado. Ainda antes disso, Bolsonaro cobrava resultados que não vinham, mas acabava sendo acalmado pela “ala equilibrada” dos ministros. Sim. Existe uma meia dúzia de “normais” na Bolsolândia.

Com o advento da Covid-19, a situação piorou. Guedes, perdido, apresentou um plano pífio para ajudar os mais pobres, e algum tipo de crédito para as pequenas e médias empresas. Coube ao Congresso, portanto, apresentar e fazer aprovar – contra a vontade do governo – a ajuda de 600 reais, conhecida como corona voucher. Já os empresários ficaram a ver navios. O resto se tornou história e chegamos até aqui.

Aquela histórica – no sentido de infame – reunião ministerial de 22 de abril de 2020, mostrou um Paulo Guedes isolado, bombardeado pelos tais desenvolvimentistas que pregam gastos irresponsáveis e acima do teto. O clima pesou tanto que o parça do Queiroz teve de declarar publicamente que seu ministro continuava prestigiado. Mas, de lá para cá, não foram poucos os boatos de atrito entre os dois ex-amantes.

Em entrevistas passadas, Guedes vinha se mostrando cada vez mais, digamos, sincero, e deixando bem claras suas posições contrárias às do chefe e de boa parte dos ministros. A novidade era que Bolsonaro ao menos havia parado de colocar lenha na fogueira, e, ainda que não mostrasse a menor boa vontade com as iniciativas do Posto Ipiranga, publicamente não se manifestava contrário, e até fingia apoio.

Em agosto do ano passado, contudo, parecia que o caldo havia entornado de vez. O ministro deixara de comparecer a uma agenda oficial, e o presidente desautorizou a apresentação do plano econômico do ex-Posto Ipiranga. Pior. Deu-lhe prazo de três dias para que corrigisse o que havia considerado ruim, sob pena de não querer mais saber do assunto, o que foi visto como uma espécie de ultimato, senão humilhação.

Quem acompanhou o processo de fritura do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, garantia que Paulo Guedes não duraria mais muito tempo. Ou ele sairia por conta do próprio temperamento explosivo e a conhecida impaciência, ou seria “saído” por alguma razão que Bolsonaro inventaria, tal como fez com o próprio ex-ministro da Saúde, e também, em certa medida, com o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro.

Após abandonar de vez a promessa de combate à corrupção, abraçar o Centrão e se enrolar todo com a Justiça (no caso dos “micheques”), Bolsonaro caminha agora para abandonar sua última promessa de campanha, tornando-se um verdadeiro “esquerdista”, nos moldes do mais explícito lulopetismo. Assim, a chance de permanência de Paulo Guedes no governo se torna cada vez menor, e sua saída parece iminente.

O que surpreende, de verdade, não é a guinada antiliberal do pai do senador da rachadinha, já que liberal nunca foi, mas a submissão desavergonhada de Paulo Guedes. Na verdade, o que estamos assistindo é quase uma forma de auto humilhação pública, de abandono de uma bela história empresarial e de um respeitado currículo acadêmico em prol de um, de um, de… um lunático desqualificado, vá lá, para pegar leve.

O Posto Ipiranga foi o fiador de Bolsonaro junto aos mercados e aos eleitores antipetistas que resistiam, por motivos mais do que óbvios, aderir à candidatura do ogro ignorante que parecia ser a tábua de salvação do País. Hoje, qualquer criança de 10 anos sabe que o Brasil errou, e errou feio! E Guedes, se não sabe, precisa ser interditado, pois perdeu completamente o juízo e a sanidade mental. Não deve ser este o caso.

Em maio de 2006, o criminoso confesso, Roberto Jefferson, hoje aliado e conselheiro de Jair “devoto da cloroquina” Bolsonaro, num momento hilário durante uma audiência do mensalão, disse a José Dirceu: “sai daí, Zé”, aconselhando o meliante a deixar o governo do não menos meliante Lula da Silva. Pois é. Saia daí, PG. Vá embora, que tá feio. Você não precisa passar por isso, e o Brasil jamais irá te agradecer.