O bom da internet – sim, tem muito “de bom” com as redes – é que não nos deixa mentir. O que escrevemos fica registrado para sempre como uma espécie de cicatriz; ainda que apaguemos, deixamos marcas. Mas atenção: mudar de opinião não significa desdizer o já dito. Tem gente presa a erros por mera incapacidade de voltar atrás. Uma pena.

Textos meus, às pencas, prevendo anos e anos de complicações jurídicas para o ex-verdugo do Planalto não faltam. Ao contrário: abundam! Mas isso não me faz nenhum Bidu (os com menos de 50 anos que pesquisem e descubram por quê). Qualquer ser humano com mais de dois neurônios em operação seria capaz de enxergar isso.

O patriarca do clã das rachadinhas e das mansões milionárias, compradas com panetones de chocolate e muito dinheiro vivo, foi alvo de busca e apreensão, em sua casa, pela Polícia Federal, na manhã desta quarta-feira (3/5). Seu ex-ajudante de ordens, Coronel Mauro Cid, foi preso, e dezenas de outros mandados foram cumpridos pela PF.

A suposta organização criminosa é investigada no âmbito da Operação Venire, que apura inserções falsas no sistema de Saúde. Bolsonaro e sua turma são investigados por terem, em tese, adulterado informações pessoais sobre vacinação contra a Covid-19 a fim de burlarem as leis e normas nacionais e internacionais.

A prática serviria para omitir a identidade de quem se vacinou, mas em público atacava as vacinas e a Ciência, ou para permitir que não vacinados obtivessem cartões de vacinas. Inclusive, a própria filha do ex-presidente, uma menor de idade, pode ter se valido do esquema a fim de conseguir viajar para os Estados Unidos.

O tal Coronel Cid é velho conhecido da Justiça, já que investigado no Inquérito das Fake News, no caso do encontro com embaixadores – quando Bolsonaro acusou o sistema eleitoral brasileiro de fraude, prometendo apresentar provas (o que jamais fez) -, no suposto esquema de Caixa 2 para pagamento de despesas da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e no caso do contrabando das joias sauditas.

Já o ex-presidente é alvo da Justiça Eleitoral, do STF, do Tribunal Internacional Penal de Haia e possivelmente de inúmeras futuras ações cíveis e penais na Justiça comum, assim como, diversos de seus aliados próximos e até mesmo familiares. Diante de tanto – e de tudo – o que fez, ou melhor, fizeram durante os últimos quatro anos (no mínimo), estranho seria se fosse diferente.

Não. Não creio em condenações severas, infelizmente. O passado recente do Brasil não nos permite nem sequer sonhar com algum grau de punibilidade, haja vista a “alma mais honesta deff paíff” ser o atual presidente da República, e a notícia de hoje de que as condenações do ex-governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, foram anuladas. Porém, assistir a um mínimo de seriedade judicial não deixa de proporcionar um certo alento.