O maior problema que enfrenta um político populista sem conteúdo, que vive de mentiras, ofensas, mistificações e promessas vazias, é manter-se falando quando necessário – em entrevistas, debates etc – por mais do que alguns minutos, ou poucas horas, no caso dos mais habilidosos e caras de pau, como Ciro Gomes, pois o estoque de bravatas e palavrões é limitado, bem como o número de lotes na lua para vender.

Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, sofre de um problema ainda maior. Como é limitadíssimo intelectualmente – uma maneira educada que encontrei de chamá-lo de burro – e visivelmente atrapalhado com a fala (chega a ser igual ou pior que Dilma Rousseff, nossa eterna estoquista de vento), sua capacidade de engabelar o público diminuiu sensivelmente. Sua sorte, contudo, é que seu eleitor não exige nem merece nada além.

Assim, quando precisa preencher o espaço vazio do silêncio constrangedor, o amigão do Queiroz manda o que lhe vem na telha, sem filtro algum, e diz coisas como “não há fome verdadeiramente no Brasil”, ou “alguém já viu uma pessoa pedindo pão em frente a uma padaria?”. As falas são tão estúpidas, tão cretinas, tão descoladas da realidade, que custamos a acreditar que foram mesmo ditas – e confirmadas horas depois.

Do mesmo mal – ou bem, para eles, vá saber – sofre Lula da Silva, o meliante de São Bernardo, o mais astuto (infelizmente) e melhor orador (infelizmente) político vivo do Brasil. Deixar o chefão petista falar, é pedir para ser enrolado e ouvir as maiores mentiras e distorções possíveis sobre qualquer coisa. Porém, ainda que seja capaz de enganar por mais tempo, em meio a tantas falácias, sempre deixa escapar impropriedades.

Durante o bate-papo como William Bonner e Renata Vasconcellos, no Jornal Nacional, da Rede Globo, quinta-feira passada (25/8), o líder do petrolão detonou parte do agronegócio brasileiro, chamando milhares de produtores alinhados ao bolsonarismo de direitistas e fascistas, bem ao gosto de sua militância mais aguerrida, para o delírio dos criminosos do MST (Movimento dos Sem Terra), e para a alegria dos memes bolsonaristas.

Há uma frase de que gosto muito, atribuída ao imortal Abraham Lincoln (1809-1865): “É possível enganar algumas pessoas todo o tempo; é possível enganar todas as pessoas por algum tempo; não é possível enganar todas as pessoas todo o tempo”. Se o genial abolicionista conhecesse o Brasil, possivelmente mudaria de ideia, mas o contexto é bastante interessante e real. Lula e Bolsonaro, como tantos, escorregam e se desnudam.

A campanha oficial mal começou e escorregões assim serão cada vez mais constantes, salvo se ambos os pilantras – porque são dois pilantras!! – falarem menos de improviso, deixarem de comparecer aos debates e fugirem das entrevistas independentes. Como eu disse no início desse texto, populistas sem conteúdo tendem a dizer mais besteiras do que os com conteúdo (alô, Ciro Gomes!). Essa semana, Bolso & Lula atiraram nos próprios pés.