O deputado de extrema-direita Jair Bolsonaro tem todas as chances de chegar ao segundo turno da eleição presidencial no Brasil, um cenário que até recentemente era impensável e que causa tensão entre os defensores da democracia.

Esse admirador da ditadura militar (1964-1985) aparece em segundo nas intenções de voto, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva, mas em primeiro lugar na hipótese – muito provável – de inelegibilidade do ex-presidente de esquerda, que cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.

O surpreendente resultado de Lula nas pesquisas abafa o fato de que Bolsonaro vem progredindo desde janeiro, inclusive em redutos do PSDB, e atualmente lidera a corrida em meia dúzia de estados num cenário sem o líder da esquerda.

No início desta semana, em visita ao Mercadão de Madureira, o ex-capitão do Exército de 63 anos não escondeu sua satisfação diante de seus admiradores que gritavam “Mito, Mito!”.

Sentindo-se em casa, lançou algumas de suas fórmulas que lhe valeram o apoio de setores saturados pela violência, corrupção e exclusão.

“Armas não geram violência e flores não garantem a paz”, proclamou entre as bancas do mercado, com os polegares para cima e um largo sorriso.

Ele não negou selfies, principalmente com mulheres, numa tentativa de agradar após declarações misóginas. De fato, 43% das mulheres dizem que nunca votariam no candidato.

Também gera uma forte rejeição nas comunidades negra e LGBT por suas declarações racistas e homofóbicas; Ele disse, por exemplo, que preferiria ver seu filho “morto em um acidente em vez de homossexual”.

“Que as pesquisas deem quase 20% a Bolsonaro é uma verdadeira desgraça”, afirma o acadêmico Ruy Fausto, autor de “Caminhos da esquerda: Elementos para uma reconstrução”.

“Ele não ganhará, mas basta que tenha uma votação como essa, para que se veja que o país vai muito mal”, acrescenta.

– Discurso de segurança –

Com 8,5 milhões de seguidores no Facebook, Twitter e Instagram, Bolsonaro tem uma força de ataque muito superior à de qualquer outro dos doze candidatos.

Tem um grande poder de atração entre os jovens nascidos após a ditadura: 60% dos seus seguidores têm menos de 34 anos. Católico, corteja as igrejas evangélicas.

Esse arauto da lei e da ordem também atrai os pobres, a classe média e intelectuais.

Para combater a violência no Brasil, que no ano passado atingiu o recorde de quase 64.000 homicídios, Bolsonaro propõe relaxar as leis sobre o porte de armas para os “cidadãos de bem”.

“Se qualquer um de nós, civil ou militar, é atacado e der 20 tiros em cima do carra, é bem dado, deve ser condecorado e não processado”, declarou em Madureira.

Seu vice-presidente é o general da reserva Antonio Hamilton Mourão, que afirmou em 2017 que, se a situação política continuasse a deteriorar-se, o Exército seria forçado a “impor uma solução” no Brasil.

O candidato anunciou que, se eleito, daria aos generais seis ministérios. “Ele também quer dar à Polícia Federal um papel maior na luta contra o crime organizado”, aponta David Fleischer, professor emérito de ciência política da Universidade de Brasília.

Mesmo assim, será difícil, em caso de eleição, formar uma maioria para governar.

As eleições estão em um estágio tão imprevisível que a hipótese de um presidente de extrema-direita não parece mais absurda.

“Há poucas possibilidades de que seja eleito”, acredita David Fleischer. Mas “depende de quem disputar o segundo turno”: Marina Silva (ambientalista), Ciro Gomes (centro-esquerda) ou Geraldo Alckmin (centro-direita).

Aqueles que se assustam com o crescimento de Bolsonaro se apegam à esperança de que sua força nas urnas enfraqueça com o início, neste fim de semana, da campanha eleitoral por rádio e televisão.

Estes espaços são atribuídos proporcionalmente aos blocos legislativos e a do Partido Social Liberal (PSL) de Bolsonaro terá apenas 8 segundos. Alckmin, por outro lado, graças a suas alianças, terá 5,32 minutos.