Bolsonaro diz ser o único que pode parar tarifas de Trump e derrotar Lula em 2026

Mateus Bonomi/Reuters
Bolsonaro dá entrevista exclusiva à Reuters em Brasília após ser alvo de operação da PF Foto: Mateus Bonomi/Reuters

Com jeans escuros puxados sobre uma tornozeleira eletrônica acoplada poucas horas antes, Jair Bolsonaro (PL) deixou claro nesta sexta-feira, 18, que a humilhação das restrições impostas pela Justiça não diminuiria seu papel na política global.

Em entrevista concedida à agência Reuters na sede de seu partido, alvo de busca e apreensão na mais recente ação do STF (Supremo Tribunal Federal), Bolsonaro se apresentou como o homem capaz de renegociar o tarifaço dos Estados Unidos e conter a influência chinesa e combater a esquerda no Brasil.

+Leia a íntegra da decisão de Moraes e saiba quais são as medidas restritivas impostas ao ex-presidente

“Eles querem de vez me tirar do jogo político do ano que vem”, disse, referindo-se a uma eleição na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve concorrer à reeleição. “Lula, sem mim, ganha a eleição de qualquer um.”

Bolsonaro quer encontro com Trump

Mesmo depois que o Supremo o proibiu, nesta sexta, de ter contato com autoridades estrangeiras, o ex-presidente insistiu que gostaria de se encontrar com Donald Trump, que o chamou de injustiçado e perseguido na carta em que anunciou sobretaxas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados ao país.

Enquanto aliados consideram que a tática está saindo pela culatra e municiando estratégias benéficas ao governo Lula, o ex-presidente não quis se estender sobre as exigências de seu aliado na Casa Branca. “Eu jamais vou dar conselho ao Trump. Quem sou eu? Eu respeito“, afirmou, sentado a uma mesa com dois volumes ao alcance: uma cópia da Constituição Brasileira e uma revista com Trump na capa.

Relação com EUA é vista como trunfo

Quanto às medidas restritivas, Bolsonaro chamou Moraes de “ditador” e descreveu as últimas ordens judiciais como atos de “covardia”. “Suprema humilhação”, disse ele, quando perguntado como se sentia ao usar a tornozeleira eletrônica. “Tenho 70 anos, fui presidente da República por quatro anos.”

O ex-presidente negou que planeje deixar o país, mas disse que se encontraria com Trump se pudesse reaver seu passaporte, apreendido pela Polícia Federal em 2024. Ele também disse que queria conversar com o principal diplomata dos EUA no Brasil para discutir o tarifaço americano.

Trump elogiou Bolsonaro, mas disse a jornalistas esta semana que ele “não é como um amigo”. Quando questionado sobre detalhes de seu relacionamento, o ex-capitão do Exército brasileiro começou a descrever o avanço dos interesses chineses na América Latina.

A China vem tomando conta do Brasil. Muitos veem que, no Brasil, sou a pessoa que pode frear a China”, disse, acrescentando que isso seria possível desde que tivesse um país nuclear em seu apoio. “Que país é esse? O do Norte?”.