Após virar réu acusado de tramar golpe de Estado, ex-presidente afirma que denúncia da PGR é "infundada", minimiza "minuta do golpe" e se distancia de ataques do 8 de janeiro.Falando a jornalistas momentos depois de virar réu perante o Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou nesta quarta-feira (26/3) que tenha participado de uma trama golpista e chamou de "infundadas" as acusações contra ele, dizendo-se vítima de perseguição.
"Parece que tem algo pessoal contra mim", queixou-se. "Golpe tem povo, mas tem tropa, tem armas e tem liderança. Um ano, dois anos de investigação, não descobriram quem porventura seria esse líder", disse Bolsonaro.
A denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o ex-presidente e que foi aceita pela Primeira Turma do STF, porém, o acusa justamente de liderar uma organização criminosa cuja finalidade era dar um golpe de Estado.
O ex-presidente agora responde, junto com outros sete ex-auxiliares de seu governo, a um processo na Primeira Turma do STF. Se não for inocentado das acusações, pode pegar pena de até 43 anos de prisão.
Bolsonaro minimiza "minuta do golpe"
Um dos elementos citados pela PGR na denúncia é uma "minuta do golpe" que teria sido editada por Bolsonaro. O documento encontrado pela Polícia Federal (PF) é um rascunho de decreto que previa a prisão de ministros do STF e a realização de novas eleições.
Bolsonaro se distanciou do documento alegando que não o assinou nem adotou providências para tirá-lo do papel.
"Não adianta botar um decreto na frente do presidente, de estado de Defesa e assinar que está resolvido. Não convoquei os conselhos da República e da Defesa. Nem atos preparatórios houve para isso", declarou. "Golpe tem conspiração com a imprensa, o parlamento, setores do Judiciário, setores da economia, fora do Brasil, Forças Armadas em primeiro lugar, sociedade, empresários, agricultores. Aí você começa a gestar um hipotético golpe. Nada disso houve."
Ao comentar uma reunião que teve após as eleições de 2022 com o à época comandante do Exército, general Freire Gomes, para discutir a "minuta do golpe", Bolsonaro alegou que "discutir hipóteses de dispositivos constitucionais não é crime".
"Destruição de patrimônio só se for por telepatia"
Ele também negou que tenha tido algum papel no ataque às sedes dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. "Eu sou golpista? [Em] 8 de janeiro estava nos Estados Unidos. Uma das cinco acusações é destruição de patrimônio. Só se for por telepatia."
Bolsonaro afirmou ainda que, quando era presidente, pediu a desmobilização de movimentos que pediam intervenção militar no país e que colaborou com a transição de governo, inclusive nomeando os comandantes militares indicados por Lula.
"Em dezembro, nomeamos dois comandantes. O outro saiu mais no final. Atendi ao presidente Lula. Se tivesse qualquer ideia de força, não deixaria os comandantes do Lula assumirem", argumentou.
A PGR, porém, acusa Bolsonaro de não ter tomado providências para desmobilizar os acampamentos golpistas montados em frente aos quartéis das Forças Armadas, e diz que ele teria participado de reuniões de planejamento do golpe e tinha conhecimento de um plano para assassinar o presidente Lula, o vice dele, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Bolsonaro volta a pôr urnas eletrônicas em dúvida
Ao acatar a denúncia da PGR nesta quarta, o relator do caso na Primeira Turma do STF, ministro Alexandre de Moraes, citou trecho da denúncia que diz que a trama golpista teria começado com os "ataques infundados" de Bolsonaro à urna eletrônica, numa live de julho de 2021.
O ex-presidente ainda insiste em questionar a lisura do voto eletrônico. "Não sou obrigado a confiar", disse. "Confio na máquina, não sou obrigado a confiar no programador [das urnas eletrônicas]."
ra (ots)